CURIOSIDADES & ANOMALIAS – 2

A grande tiragem d’O Mosquito — que nos anos 40, depois de passar a bissemanário, chegou a atingir 30.000 exemplares por número! — impunha a realização de turnos nas oficinas e a utilização de várias chapas de impressão, nas quais, por vezes, os erros (sempre inevitáveis) só eram detectados quando a máquina, a grande impressora Rolland de “offset”, já estava em pleno funcionamento, “carburando” a toda a velocidade (pois imprimia mais de 7.000 cópias por hora!). Eis a sua vetusta imagem, reproduzida do Jornal do Cuto nº 22, de 1 de Dezembro de 1971, com nota à margem de Roussado Pinto.

Máquina Rolland 262

Havia sempre, porém, a possibilidade de emendar esses erros, rasurando as próprias chapas, desde que não fosse demasiado tarde, isto é, antes da máquina acabar a sua tarefa. Alguns dos erros mais insólitos (e que ficaram para memória futura, pois parcialmente já não tinham remédio) dizem respeito à numeração e às datas de certas capas que ainda ostentam os elementos da edição anterior. Como por exemplo, a do nº 407, impressa em muitos exemplares (talvez mais de metade da tiragem) com o nº 406 e com a data respectiva, embora os temas das duas capas sejam muito diferentes.

Verificado o erro por algum impressor mais atento, ou pelo próprio Tiotónio (António Cardoso Lopes), que era quem geralmente manuseava a preparação das chapas, foi ainda possível corrigi-lo num bom número de exemplares, pois já apareceram revistas com a sequência devidamente alterada. E uma delas, reproduzida a seguir neste post, ao lado da sua congénere, faz parte afortunadamente da minha colecção.

Mosquito 406 B e 407

Claro que para os editores d’O Mosquito seria um grande prejuízo se tivessem de destruir todos os exemplares mal numerados. Por isso, acabavam sempre por distribui-los mesmo com essa anomalia, em que muitos leitores, garotos ainda da escola primária, nem sequer reparavam. Aliás, nesses tempos, quantos é que já possuíam o vício de coleccionadores?

O Mosquito era lido num ápice e passava de mão em mão, entre miúdos do mesmo bairro e colegas da mesma escola, indo parar, depois de manuseado por muitos e entusiásticos admiradores do Capitão Meia-Noite, do Cuto e do Serafim e Malacueco, às prateleiras de alguma estante ou a uma caixa guardada num sótão onde o pó e as teias de aranha não tardariam a cobri-la. E na pior das hipóteses ficaria esquecido no chão, arrastado pelo vento e pisado por quem passava. Ou seria vendido ao desbarato, como outros papéis velhos, condenado, depois de tantas aventuras e glórias, ao tristonho destino de embrulhar castanhas assadas (“quentes e boas”), quando chegasse o Inverno!…

Mosquito 406 259Mas como a tiragem era grande, quase desco- munal para um jornal infantil, foram muitos também os exemplares que se salvaram. Mesmo aqueles em que há duas capas diferentes com números e datas iguais (para estabelecer a confusão entre os coleccionadores mal informa- dos). No caso que hoje trazemos à tona a capa do 407 era, como habitualmente, de E. T. Coelho, ilustrando uma cena da novela “Sunyana, o Rebelde”, escrita por Robert Bess (aliás, Roberto Ferreira, novelista que também usava o anagrama de Rofer); mas a do 406, também de E.T. Coelho, dizia respeito ao famoso Capitão Meia-Noite, herói de uma magnífica série desenhada pelo veterano mestre inglês Walter Booth, cuja segunda parte se estreara pouco antes, no nº 403 da revista.

Durante a sua existência, O Mosquito foi vítima de outras anomalias deste género, embora não seja fácil descobrir todos os números em que aconteceram repetições semelhantes (ou se chegaram a ser emendados). Pela nossa parte, a pesquisa continua…

REPORTAGEM DA ASSEMBLEIA GERAL E DAS NOVAS EXPOSIÇÕES DO CPBD – 1

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No passado sábado, dia 16 de Abril, pelas 16h00, na sede do Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), sita na Avenida do Brasil 52A, Reboleira (Amadora), reuniu-se a sua Assembleia Geral, depois de convocatória enviada a todos os associados, a fim de tomar várias deliberações urgentes no âmbito dos processos de obtenção de apoio em curso, junto da Câmara Municipal da Amadora (ratificação das contas de 2013 e 2014, orçamento e plano de actividades de 2016).

Foram também votadas as contas de 2015 e prestada informação sobre a recente actividade do Clube, projectos futuros e outras questões de interesse geral. Todas as deliberações seriam aprovadas por unanimidade, com acta assinada pelos presentes.

Durante a sessão, foi distribuído aos sócios o nº 142 (Abril 2016) do Boletim do CPBD, dedicado à primeira de duas exposições marcantes, inauguradas na sua sede em Janeiro último: Os 80 anos d’O MosquitoTributo a Eduardo Teixeira Coelho. Do sumário deste número consta também um artigo de Carlos Bandeira Pinheiro e Jorge Magalhães, com uma completa quadriculografia (em publicações portuguesas) de E.T. Coelho, o “poeta da linha”, cujas ilustrações se destacam na capa e na contracapa do Boletim.

boletim-142 CAPA E CONTRACAPA

Divulgamos seguidamente algumas imagens desta Assembleia Geral, captadas por Dâmaso Afonso, presidente da respectiva Mesa (que só por causa disso não aparece nas fotos). Aqui ficam, mais uma vez, os agradecimentos que lhe são devidos pela valiosa colaboração que tem prestado, desde o início, aos nossos blogues.

Entre os sócios presentes, reconhecem-se, nas primeiras filas, António Martinó (outro eficiente repórter, sempre de câmara em punho), José Ruy e Geraldes Lino; e nas últimas, Pedro Bouça, António Amaral, Paulo Duarte (coordenador do Boletim do CPBD), Luís Valadas, Catherine Labey, José Vilela, Carlos Gonçalves e um sujeito de barbas grisalhas que eu vejo todos os dias no espelho…

A Mesa da Assembleia, composta por três elementos, foi ocupada (nas fotos) por Pedro Mota (presidente da Direcção) e Carlos Moreno (secretário da Assembleia Geral). Pedimos desculpa aos sócios não identificados. Fica para a próxima… 

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Quem reparar, ou fizer comentários acerca de tantas cabeças grisalhas, deve lembrar-se de que o Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) festeja em 2016 quarenta anos de existência… e alguns dos sócios presentes já o acompanham desde a primeira hora! Honra lhes seja feita, pois, sobretudo aos que, como Carlos Gonçalves e Geraldes Lino, continuam abnegadamente a exercer funções directivas.

Posto isto, queremos também referir as duas exposições, recentemente montadas, que se encontram numa das salas do piso inferior da nova sede e que versam o tema Eça de Queirós e Alexandre Herculano na Banda Desenhada, numa parceria do CPBD com o GICAV (Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu). Aqui fica esta breve menção e o anúncio, dado o interesse que elas nos suscitam, de uma reportagem alusiva (neste e noutros blogues da nossa Loja de Papel), em próxima oportunidade.

Nota: Há algumas horas, recebemos também uma remessa de fotos enviadas pelo segundo “repórter de serviço” na Assembleia Geral do CPBD, o nosso bom amigo e colega da blogosfera, Professor António Martinó (autor do blogue Largo dos Correios), a quem agradecemos a generosa partilha e a colaboração sempre expedita, reservando para um próximo post a publicação das suas imagens.

EM MEMÓRIA DE VÍTOR PÉON – O MAIOR CRIADOR DE “WESTERNS” DA BD PORTUGUESA

Mosquito 396Se tivéssemos de designar uma data “oficial” para o nascimento do western na BD portuguesa, não hesitaríamos em escolher a de 10 de Abril de 1943, pois foi nesse dia (um sábado) que se estreou uma empolgante aventura de cowboys n’O Mosquito nº 396, a primeira em estilo realista de um desenhador português, que assinava apenas Péon no cabeçalho da história. Identi- dade que, pela ausência de contactos, nessa época, com os leitores, passou quase desper- cebida, embora o dinamismo dos desenhos e a emoção contida em cada cena, num suspense sempre crescente, à maneira das melhores histórias inglesas, tivesse contagiado a rapaziada que lia com verdadeira paixão O Mosquito, pequeno mas atraente jornal juvenil que se publicava duas vezes por semana.

“Falsa Acusação” era o título dessa movimentada aventura do Far West e Vítor Péon Mourão o nome do jovem artista que a desenhava, autor também do argumento, embora o texto, que aparecia em legendas didascálicas, no rodapé das vinhetas, fosse escrito por Raul Correia, um dos directores e fundadores d’O Mosquito e narrador de larga veia, afeito a todos os géneros de aventuras que faziam as delícias dos seus jovens leitores.

Falsa Acusação a 10Antes de Péon se lançar na trilha do western, com a história que assinalou também a sua estreia como autor de BD, este género, em estilo “sério”, era apanágio apenas de alguns desenha- dores estrangeiros e de um excelente artista português, também ainda muito jovem, que dava pelo nome de Eduardo Teixeira Coelho (ou E.T. Coelho), mas se limitava a ilustrar as novelas de aventuras publicadas n’O Mosquito, como foi o caso de “Leis do Oeste”, um conto de Lúcio Cardador que serviu de tema à capa do nº 396.

Genuínas histórias de cowboys aos quadradinhos não eram presença rara nas páginas das revistas portuguesas, com primazia para O Mosquito, desta- cando-se entre todas elas uma notável criação de Reg Perrott, o mais talentoso desenhador inglês dessa época, intitu- lada “A Flecha de Oiro” (no original, The Golden Arrow). Perrot foi sem dúvida o artista que mais influenciou Vítor Péon no início da sua carreira e “Falsa Acusação” é a melhor prova disso, com um estilo que procurava imitar não só o dinamismo de linhas de Perrott como o realismo cinematográfico com que ele retratava os cenários e as personagens.

A tal ponto Péon admirava o trabalho do mestre inglês que, anos mais tarde, realizou para a revista Valente, editada por Roussado Pinto, uma versão de “A Flecha de Oiro” em tudo fiel ao original, ainda que num estilo já sensível a outras influências. Infelizmente essa versão ficaria incompleta, porque o Valente não resistiu por muito tempo à concorrência.

A Flecha de Oiro - MosquitoA par do seu inato dinamismo, Péon revelou-se um exímio desenhador de cavalos e de figuras femininas, elementos fundamentais de um western, sem os quais qualquer história de cowboys parece perder todo o interesse. Ao longo da sua carreira, o futuro criador de Tomahawk Tom, o mais icónico aventureiro do Oeste que já existiu na BD portuguesa, digno rival de outros grandes cowboys do seu tempo, como Cisco Kid, Roy Rogers e Hopalong Cassidy, nunca olvidou por muito tempo o género que cultivava com tanto entusiasmo.

Tomawak Tom logotipoE foi mesmo ao western que dedicou uma última homenagem quando, atingido por grave doença e impossibilitado de continuar a desenhar histórias aos quadradinhos, mostrou ainda uma centelha do seu talento pintando telas admiráveis, de cores quentes e pince- ladas impressionistas, cujos temas eram as vastas pradarias, os destemidos cavaleiros e os fogosos mustangs que tinham inflamado a sua imaginação, ao enveredar muito jovem por uma carreira em que somou os maiores êxitos e granjeou uma vasta legião de admiradores, tanto em Portugal como noutros países.

Recordando uma data histórica da BD portuguesa — que certamente muitos fãs do western celebrarão também com agrado, pois simboliza a transição de um estilo infantil e paródico, ainda vigente nas histórias de muitos autores nacionais, em plenos anos 30, para um género inteiramente realista que recria a verdadeira essência das histórias de cowboys —, a nossa Loja de Papel criou um novo blogue, com o nome de Era uma vez o Oeste, dedicado à memória de Vítor Péon e à heróica epopeia do Oeste americano, que ele, com o seu talento artístico e o vigor do seu estilo e da sua imaginação, ajudou também a enraizar no culto de várias gerações de jovens leitores, elevando-a a um patamar raramente ultrapassado por outros artífices da Banda Desenhada de cariz popular.

Nota: podem ver os primeiros posts deste nosso “irmão” mais novo através do link https://eraumavezooeste.wordpress.com

HISTÓRIAS DO (MEU) AVOZINHO – 7

Avô Raul capa

VII

Assim se passaram os quase três anos seguintes, sem mais sobressaltos, até uma manhã de sábado, dia 1 de Maio de 1984. A minha mãe estava, na altura, a fazer uma tradução para um cliente francês, juntamente com a irmã “Bijéu”, na casa dos seus sogros, que, por sinal, viviam também na Rua Carlos Mardel. Quando chegámos ao portão, a minha tia, de expressão acabrunhada, caminhou na nossa direcção… e percebi que alguma coisa se passava. Disse-nos que a avó Teresa tinha morrido de manhã, na cama. Uma veia no seu cérebro rebentara. Ainda foi levada de ambulância para o hospital, já sem vida, com o meu avô ao seu lado. Tinha morrido rapidamente, sem sofrimento.  

Fomos para casa da minha tia Adelaide e lembro-me – como num sonho – de atravessar o corredor em direcção ao seu quarto e parar à porta… O meu avô estava sentado na cama, de cabeça baixa; sentiu-me entrar e olhou para mim… Nunca tinha visto tanta tristeza na expressão de alguém. Não fui capaz de lhe dizer nada e voltei para trás… De repente, “acordei”. A minha avó tinha morrido. A primeira cara que vi foi a da minha prima “Bibi”, que chorava no corredor e, apesar da sua própria tristeza, por saber o quanto eu era ligado à nossa avó, me disse “não chores”.

A avó que eu pensava viver para sempre, que me adormecia com histórias, me ia levar e buscar à escola e me concedia todos os pedidos, já não estava por ali. E se eu me sentia assim, como se sentiria o meu avô…

Nesse dia, tudo mudou. Para mim, foi o fim da primeira “parte” da minha vida. Para o meu avô, foi tão só o começo do fim. Rasgou o seu bilhete de identidade e disse que Deus o tinha traído. Não é preciso dizer mais nada.

Dois meses antes de ter morrido – como se já soubesse –, a minha avó tinha escrito uma carta de despedida, que entregou à minha tia, pedindo-lhe que o meu avô nunca a lesse. Nessa carta, pedia-lhe também que “olhasse por mim”.

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A vida continuou, menos bem.

A primeira vez que o meu avô foi sozinho receber a pensão ao Banco, o empregado, ao vê-lo entrar sem a minha avó e depois de saber o que tinha acontecido, disse-lhe que sempre o impressionara o amor e a amizade que transpareciam entre os dois. Estou a falar de uma pessoa que os via uma vez por mês, durante uns minutos…

Lembro-me do lugar vazio à mesa e do olhar vago do meu avô. Por vezes, durante o almoço, olhava para a cadeira desocupada e chorava.

Apesar de tudo, por saber o quanto a minha avó gostava de mim, o meu avô transferiu para si a “tarefa” de olhar por mim. Uma vez, a minha mãe foi sair e eu fiquei à espera dela em casa da minha tia; quando voltou para me vir buscar, tinha o meu avô à sua espera, muito zangado, porque já era muito tarde e eu tinha de descansar! Era meia-noite e eu tinha 16 anos, mas para ele, eram cinco da manhã e eu tinha 6 anos.

Em certos momentos, poucos, parecia-me que queria ultrapassar a avassaladora realidade, mas a tristeza era esmagadora, demasiado pesada para ele. Começou lentamente a ficar curvado e ficava longos momentos em silêncio, como se já não estivesse ali. De certa forma, já não estava. Dez meses depois, com a alma completamente sangrada, desistiu de viver. No dia 13 de Março de 1985, deitou-se na cama e ali ficou três dias sem comer e beber, aguardando o momento que sabia estar a chegar. No dia 15, deixou o mundo dos vivos e reuniu-se para sempre com a sua Maria Teresa.

Obrigado a ambos por tudo o que me deram, até sempre! Gosto de pensar, que de alguma forma, continuam a olhar por mim…

Alexandre Correia Gonçalves  

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Nota: Termina assim a publicação de uma série de artigos, recheados de curiosos factos da vida familiar de Raul Correia (o inesquecível Avozinho), em homenagem à sua memória (por tudo o que legou aos seus leitores, particularmente aos d’O Mosquito), à sua personalidade de homem de letras e de cultura e à sua obra vasta e multifacetada.

Renovamos os nossos agradecimentos ao seu neto Alexandre Correia Gonçalves por nos ter generosamente facultado este precioso testemunho biográfico, com várias fotos e documentos inéditos, cuja publicação muito honra e prestigia O Voo d’O Mosquito.

 

CANTINHO DE UM POETA – 20

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Saudando o regresso da Primavera — embora ainda incerto e hesitante como os primeiros passos de uma criança, nestes dias ventosos de Abril que alternam a chuva e o bom tempo —, eis mais um poema de Raul Correia, publicado no Jornal do Cuto nº 10, de 8/9/1971, com a harmoniosa lira que distinguia a maioria das obras do Avozinho, tão apreciadas pelos leitores d’O Mosquito.

Complemento indispensável desses versos de métrica perfeita, as ilustrações igualmente apelativas de José Baptista (Jobat) procuravam conciliar uma visão romântica e nostálgica do passado, subjacente ao título da rubrica “Cantinho de um Velho” — possivelmente concebido por Roussado Pinto, director do Jornal do Cuto —, com o naturalismo de uma escola que se projectava no futuro.

Foram essas memórias de infância que despertaram emoções recônditas no espírito dos antigos leitores do Avozinho, muitos dos quais se reviam no Jornal do Cuto, recheado de personagens com nomes como os de Cuto, Falcão Negro, Capitão Meia-Noite e Serafim e Malacueco, como se ele fosse uma nova imagem d’O Mosquito.

JOSÉ GARCÊS – UM DESENHADOR COMPLETO

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Como foi largamente noticiado, inclusive neste blogue e n’O Gato Alfarrabista, José Garcês, um dos maiores mestres das artes figurativas portuguesas, foi alvo de uma oportuna homenagem na Biblioteca Nacional pelos seus 70 anos de carreira, iniciada em 1946 nas páginas d’O Mosquito. Homenagem que ainda decorre, depois de um colóquio realizado pelo Clube Português de Banda Desenhada em 30 de Março p.p., com uma exposição que está patente naquela instituição cultural até ao próximo dia 16 de Abril.

Organizada pelo CPBD e pela Biblioteca Nacional, essa exposição reúne várias amostras da fértil actividade artística de José Garcês, mostrando exemplares de revistas que fizeram história como O Mosquito, Camarada, LusitasFagulha, Joaninha Cavaleiro Andante, mas também álbuns de BD, originais, livros ilustrados, separatas e preciosas peças arquitectónicas como o Mosteiro da Batalha, habilmente reconstituído, até aos mínimos detalhes, por José Garcês, numa das numerosas construções de armar com que encantou, divertiu e instruiu os seus jovens admiradores (e não só).

Como é de uso nos eventos da Biblioteca Nacional, foi editada uma “folha de sala” com um artigo alusivo à extensa obra do homenageado, escrito por Carlos Gonçalves, um dos comissários da exposição. Por obséquio do Clube Português de Banda Desenhada, reproduzimos seguidamente o texto integral desse artigo (e respectivas ilustrações), que na folha da BN ficou muito resumido.

A Carlos Gonçalves e ao CPBD os nossos agradecimentos.

JOSÉ GARCÊS, UM DESENHADOR COMPLETO 

De todos os desenhadores portugueses, José Garcês é talvez um dos pouco que poderemos considerar como completo na sua arte. Isto porque na sua incontornável obra, além de se encontrar todos os ingredientes que qualquer História aos Quadradinhos deverá ter, emoção, aventura, suspense e um bom argumento, tem igualmente erotismo. Esta é talvez a componente mais importante ou, pelo menos, uma das mais importantes nos trabalhos deste desenhador. Várias são as suas obras e em quase todas elas a mulher acaba por desempenhar um papel de relevo no desenrolar da história. Cada uma das suas personagens femininas são dinâmicas, inteligentes e participam activamente na acção. Não esperam que o “herói” as salve, quando se encontram em perigo. Elas destacam-se e actuam, com risco da própria vida, contra qualquer vicissitude. Evidentemente que para atingir um palmarés invejável de produção e, inclusive, conseguir alcançar um patamar de qualidade na sua obra, tal só seria possível com o trabalho de muitas horas.

O EROTISMO NAS SUAS OBRAS

O Melro + O inferno verde

José dos Santos Garcês nasceu a 23 de Julho de 1928. O seu itinerário como desenhador começa quando ainda era muito novo, ao criar o fanzine O Melro, datado de finais de 1944. Seria uma publicação de exemplar único, destinado a ser alugado entre os colegas. Publicaria, assim, 21 números da 1ª série e mais três da segunda, até finais de 1945. Esta última teria já direito a mais exemplares por número, que passariam a ser vendidos. Os seus primeiros passos nas artes gráficas dão-se ao trabalhar para a revista O Pluto, editada por Roussado Pinto, onde se ocuparia de retoques e adaptações de algumas histórias estrangeiras, que de outro modo não seriam impressas nas páginas dessa publicação. Quase em finais de 1946, precisamente a partir do nº 762 (12/10/46), já o encontramos a colaborar na revista O Mosquito, com a sua história “O Inferno Verde”, onde se nota a sua apetência pelos animais, demonstrando já habilidade criativa no planeamento das pranchas e o conhecimento da anatomia humana.

A partir daqui, a sua carreira é veloz em acontecimentos e nos trabalhos que lhe são pedidos. Aparece na revista Camarada com uma história de capa e espada. Segue-se “Rumo ao Oriente”, onde pela primeira vez a mulher passa a dominar a acção. Aqui “José Raio”, o nosso “herói” aventureiro, irá encontrar nas suas aventuras uma mulher misteriosa, talvez demasiado bela, mas de cara coberta com um véu, que não deixava distinguir as suas feições. Mas o nosso desenhador rapidamente nos oferece uma mulher em toda a sua pujança chamada “Myrian”, de belos e longos cabelos negros, de olhos aveludados e nariz fino, uma boca pequena e suave, de figura esbelta e elegante. Ela irá desempenhar um papel importante na acção, acabando por ser raptada pelo vilão como convém, mas também chegará a alterar os planos do bandido, através da sua iniciativa.

Em “A Princesa e o Mágico”, também publicada na revista Camarada, Garcês oferece-nos outra figura feminina apaixonante com “Yalla”, uma princesa etérea, cujos pés parecem nem pisar o chão… Será mais uma figura feminina a fixar. Depois de alguns trabalhos que executou para a Joaninha, suplemento da revista feminina Modas e Bordados, aparece-nos uma nova personagem de nome “Hermengarda”, silhueta frágil, de longos cabelos louros e feições de grande beleza, em “Eurico, O Presbítero” de Alexandre Herculano. Desta vez, a história seria publicada nas páginas da própria revista (nºs 2274 a 2315, de 7/9/55 a 20/6/56), sendo mais tarde recolhida e lançada em álbum pela Editorial Futura. Em “As Três Princesas Cristãs”, publicada também no suplemento Joaninha, todas elas retratadas de uma forma audaz e ainda que as mesmas não se apresentassem em trajes menores ou mais ousados, eram cativantes e sensuais.

As Princesas Cristãs + Eurico, o presbítero

Poucos foram os desenhadores portugueses que destacaram e engrandeceram a mulher de tal forma nos seus trabalhos, pois não era só a sua beleza que contava. A sua participação no enredo e muitas vezes a sua personalidade, era demonstrada nos seus actos no decorrer da história. Antes de focarmos aqui os trabalhos que José Garcês executaria ao longo da sua carreira, lembramos ainda neste campo a personagem “Fathma”, que foi apresentada na revista Lusitas. É a pujança total, o ponto alto da carreira deste desenhador e onde a sua arte está mais patente aos olhos dos leitores.

UMA CARREIRA DE SUCESSO NAS REVISTAS

Enumerar neste pequeno espaço tudo o que José Garcês criou, seria quase completamente impossível, pelo que, de uma forma sucinta, vamos dar a conhecer os trabalhos de José Garcês, todos eles de uma maneira geral bastante importantes para a História da Banda Desenhada portuguesa. E lembramos que muitos dos seus trabalhos são precisamente sobre a História do nosso país e das suas figuras mais importantes, além de outras individualidades estrangeiras, navegadores, adaptações de romances célebres e até uma História de Portugal em Banda Desenhada. Depois das suas histórias publicadas em O Mosquito – 1ª série, publica uma aventura em O Papagaio, seguindo-se mais três no Camarada, de 1948/1950. A revista Lusitas será a oportunidade a escolher e para onde irá dar aso à sua imaginação com uma série de obras, entre 1950 e 1956.

Entre estas produções, irá dedicar também algum do seu talento à revista Cavaleiro Andante. São já obras de grande fôlego e de grande aceitação por parte dos leitores desta publicação. O tema histórico não será esquecido e a sua produção conta-se pela criação de mais de uma dezena de histórias, destacando-se entre estas “Viriato” e “O Falcão”. Esta última seria mais tarde recuperada pelos Cadernos de Banda Desenhada e nela se destaca mais uma figura feminina, na personagem de “Dona Leonor de Monforte”. Titã e Joaninha são dois espaços a aproveitar para neles surgirem mais trabalhos do nosso desenhador, mas infelizmente, no primeiro caso, serão unicamente duas histórias, já que a revista entretanto acaba. Estamos em 1955/56. Nos quatro anos seguintes, as suas obras serão publicadas nas revistas Cavaleiro AndanteCamarada, nos anos de 1957/60. Enquanto na primeira os temas escolhidos serão as aventuras, na segunda a sua imaginação e produção estão mais ligadas a vários trabalhos dedicados a figuras históricas, como se impunha, já que a publicação era uma edição da Mocidade Portuguesa.

viriato + falcão 1 e 2

Mas será nesta altura e a partir de 1958, que a produção de José Garcês consegue manter um ritmo extraordinário, ao publicar na revista Fagulha e até 1973, cerca de 30 obras. Mas, em paralelo, a produção não pára e o Zorro recebe dois trabalhos seus em 1964. Em 1968, trabalha para o Pisca-Pisca e nos anos seguintes tem ligações a algumas revistas com reedições, como é o caso do Mundo de Aventuras, embora para esta ainda crie “Os Cavaleiros de Almourol”, em 1981, e para o Tintin “A Dama Pé de Cabra”, de Alexandre Herculano, e “O Santuário de Dudwa”, no mesmo ano. Em 1971, era o responsável pela parte gráfica da revista Jacto. Também tinha prestado pequenos trabalhos de ilustração no Zorro e no Foguetão, em 1964. Girassol, com “Vagô, o Tigre”, e o Fungágá da Bicharada, com algumas histórias infantis, quase finalizam a sua ligação às revistas de Banda Desenhada, mas na verdade também já não havia quase edições do género, com histórias de continuação. Em 1985, temos O Mosquito – 5ª série, onde José Garcês também colaborou.

AS SUAS PRODUÇÕES EM ÁLBUNS

Mas se as revistas de banda desenhada já tinham sido quase extintas, era a altura de se debruçar sobre outro modo de dar a conhecer, também, o entusiasmo e a vontade de criar novos trabalhos do género, para outras gerações. Começam, então, a surgir os álbuns, uma nova iniciativa de algumas editoras que, desta forma, colmatavam uma falha e procuravam igualmente novas formas de incentivar outros leitores a debruçarem-se sobre as Histórias aos Quadradinhos, mas desta vez com enredos completos, sem ter que esperar de semana para semana pelo desfecho da história. Tal prática já se tinha iniciado em finais dos anos 60 com a editora Ibis, mas só a Meribérica se atreverá numa aposta grande nesse campo, chegando a publicar algum material de origem portuguesa, mas muito pouco. A Editorial Futura apostaria mais forte, com a sua colecção Antologia da Banda Desenhada Portuguesa, onde será publicada a obra “Eurico, O Presbítero”, de José Garcês.

Será mais tarde a Asa a pronunciar-se também, com maior acuidade, nesse campo, levando para o mercado a “História de Portugal em BD”, da autoria de José Garcês, com quatro magníficos álbuns, entre 1987/88. Depois de uma grande produção no campo das ilustrações para a colecção História Júnior, começa de novo a produção deste artista, com a criação de uma série de obras que passamos a destacar: “Bartolomeu Dias” (1988), “O Tambor” (1990), “Cristóvão Colombo” (1992/1993), “D. João V” (1994), “História do Jardim Zoológico” (1997), “História da Guarda” (1999), “O Lobo de Lorena” (2000),  “História do Porto” (2001), “História de Oliveira do Hospital” (2001), “História de Ourém” (2002), “História de Portugal” (2003) (reedição e impressão num só volume), “História de Pinhel” (2004), “História de Faro” (2005), “História de Olhão” (2005),  “O Lince Ibérico” (2011),”História de Silves” (2016) e, ainda sem editor, “História de Santo António de Lisboa”. Todas estas obras não seriam possíveis sem a ajuda preciosa dos argumentos de Carmo Reis, Mascarenhas Barreto, Jorge Magalhães, Luís Miguel Duarte e Bruno Pinto.

Cristvão Colombo+ Eurico+ História de Faro

AS SUAS CRIAÇÕES NO CAMPO DAS CONSTRUÇÕES DE ARMAR

Antes de falarmos nas contribuições de José Garcês para outras actividades diferentes da Banda Desenhada, vamos abordar algumas das suas obras nas construções de armar, tarefa de que se ocuparia igualmente com grande sucesso, pois não só se dedicou a essa actividade para as revistas de Banda Desenhada, como criaria separadamente algumas construções destinadas ao grande público e vendidas separadamente numa edição da Asa, como foi o caso do “Mosteiro da Batalha”, “Torre de Belém” e “Mosteiro dos Jerónimos”, em grande formato, além de uma série de “Casas Portuguesas”. Criou igualmente a “Sé da Guarda” e a “Lancha Poveira do Alto”, como construções mais recentes.

Produções deste género já tinham sido por ele elaboradas para o jornal O Século, nos anos 60, ao apresentar a “Ponte Sobre o Tejo”. Seguem-se dois modelos de aviões “Boeing” e o hidroavião “Lusitânia” de Gago Coutinho, para a TAP, e ainda “Um Acampamento Índio” para revista O Pardal. Mas a sua maior produção vamos encontrá-la na revista Camarada – 2ª série, a partir de 1959 e até 1964, com uma panóplia de iniciativas a salientar: “Padrão dos Descobrimentos”, “A Conquista de Lisboa”, “Um Torneio Medieval”, “A Primeira Missa no Brasil” e “D. Filipa de Vilhena Armando Cavaleiros Seus Filhos”. Ainda para o Camarada criou igualmente quatro folhas preenchidas com uma série de animais de todos os tipos. Desenhou 96 cromos históricos, que seriam oferecidos aos leitores da revista em folhas, e ocupou-se de um presépio, baseado nas figuras do Presépio de Barros Laborão e outros.

Conhecedor e especializado em uniformes portugueses, criou também para esta revista 16 folhas que seriam vendidas igualmente em cartolina, como aliás aconteceria com o Presépio. Estas folhas de “Uniformes Portugueses” seriam oferecidas, de novo, nas páginas do suplemento de domingo do jornal Correio da Manhã, anos mais tarde. São também da sua autoria os três primeiros números da “Enciclopédia em Cromos”, editados pela Scire, em Dezembro 1975/Outubro 1976. Poucos serão os desenhadores, independentemente da sua nacionalidade, que se tenham ocupado de um campo artístico tão vasto como José Garcês. As marcas da sua vasta obra encontram-se em todo o lado, pois não acaba aqui a sua versatilidade e o seu empenhamento na criação, ilustração e publicação de tudo o que possa fazer parte do seu mundo da arte.

SÉ DE GUARDA+ boletim+ ilustração

ACTIVIDADES PARALELAS DE JOSÉ GARCÊS

Depois que se inicia na Banda Desenhada e apesar de ter trabalhado durante 36 anos no Serviço Nacional de Meteorologia, José Garcês nunca mais parou com outras iniciativas, nomeadamente ilustrações para livros escolares e infantis. Uma das suas facetas bastante importantes serão as suas criações para o jornal O Século nos concursos “Lendas de Portugal”, “Heróis de Portugal”, “Mulheres de Portugal”, “Concurso dos Namorados” e “Grandes de Portugal”. Não escaparam à sua veia criativa revistas de turismo, alguns jornais regionais, o Jornal do Exército e o da Força Aérea. De 1959 a 1965, irá ocupar-se da criação de postais, abordando o tema de animais em vias de extinção.

Conhecedor profundo dos uniformes militares portugueses, viria a ser solicitado para criar uma monografia sobre o assunto para o Ministério da Defesa Nacional, em 1960. Para os CTT criou postais sobre o mesmo tema, seguindo-se uma colecção de fósforos. Para o Mosteiro da Batalha esteve ligado às exposições “O Alabastro Medieval Inglês em Portugal” (1981), “Música do Século XV”, um ano depois, e “Ao Tempo de D. João I”, em 1983. Depois é um nunca mais acabar de criações. É autor de uma colecção de cromos sobre o tema “História de Portugal”. Desenhou e pintou os painéis para a “XVII Exposição do Conselho da Europa”, na Torre de Belém, em 1983, criou um álbum de desenhos sobre a “História de Portugal”, destinado ao ensino de jovens portugueses emigrados, e participou no álbum bilingue “Oito Séculos de História de Portugal”, em 1984.

A parte didáctica e o ensinamento da Banda Desenhada também não foram esquecidos, através das suas deslocações a várias escolas para colóquios e cursos sobre o tema. Nos anos 80, foi presidente do Clube Português de Banda Desenhada, lugar que ocuparia por mais de uma década. Um dos números do “Boletim” do CPBD teve a honra de apresentar uma capa de José Garcês, onde se destaca a sua veia erótica, ou o mesmo não fosse sobre o tema “A Mulher na Banda Desenhada”.

Esteve também presente em vários Festivais Internacionais de BD, em Lucca e nalgumas cidades do nosso país onde os mesmos se têm realizado. Foi homenageado pela editora Asa no “VI Festival de BD – Lisboa 87”, realizado no Fórum Picoas, onde recebeu o prémio “O Mosquito – Uma Vida Dedicada à BD”, do CPBD; em 1988, o Centro Nacional de Cultura deu-lhe o 1º Prémio pelo álbum “Bartolomeu Dias” e, em 1991, recebeu a ”Medalha Municipal de Mérito e Dedicação”, oferecida pela Câmara Municipal da Amadora.

Provavelmente já ninguém se lembrará que o primeiro emprego de José Garcês foi num atelier duma fábrica de bonecos de madeira (os famosos bonecos de Piló), ao lado de Meco (pai do artista Zé Manel). Nessa altura, e só com 19 anos de idade,  já chefiava a secção de pintura da fábrica, onde trabalhavam mais de 20 moças e mulheres, que se ocupavam da pintura dos bonecos, de acordo com as cores que o nosso artista na altura escolhia.

 O CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA

IMAGENS DA HOMENAGEM A JOSÉ GARCÊS NA BIBLIOTECA NACIONAL

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No âmbito das comemorações do 80.º aniversário d’O Mosquito e dos 70 anos de carreira de José Garcês (que nessa emblemática revista publicou as suas primeiras histórias aos quadradinhos), a Biblioteca Nacional (BN), em colaboração com o Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), organizou um colóquio no passado dia 30 de Março, em que intervieram como oradores José Ruy, António Martinó e o próprio homenageado, a quem Pedro Mota, presidente do CPBD, ofereceu no final da sessão uma placa comemorativa.

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Recorde-se que José Garcês — que tem uma exposição patente na BN, até 16 de Abril, com vários e magníficos exemplos da sua prolífica e multifacetada obra artística — foi distinguido com o Troféu de Honra do 3º Festival Internacional de BD da Amadora (FIBDA), realizado em 1991. Além de ter recebido muitos outros prémios e homenagens, incluindo a Medalha Municipal de Mérito e Dedicação da Câmara Municipal da Amadora (1991) e um diploma de louvor da josÉ-garcês-viriatoPresidência da República (2009), participou em coló- quios, cursos de iniciação à Banda Desenhada e programas de televisão (convidado por Vasco Granja). Foi presi- dente do CPBD, nos anos 80, e integrou a sua representação em diversos festi- vais internacionais, com destaque para o de Lucca (Itália), nas edições de 1978, 1980, 1982, 1984, 1986 e 1990 (nesta última, como convidado de honra).

O seu nome, de marcante importância na história da BD portuguesa, ficará também associado, para a posteridade, a uma escola e a uma rua da cidade da Amadora — louvável decisão camarária que deveria inspirar outros municípios pelo país fora, no sentido de distinguirem também, no património toponímico, os seus autores com obra de mérito no sector das artes gráficas e, em particular, da Banda Desenhada. Porque Arte e BD são hoje sinónimos de desenvolvimento social e cultural, reconhecidos em toda a parte. 

Agradecemos ao nosso bom amigo Professor António Martinó de Azevedo Coutinho as fotos que nos permitem apresentar uma desenvolvida reportagem deste evento em honra de José Garcês. (Ver também no blogue O Gato Alfarrabista).

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