O MÍTICO NÚMERO 100 (O MOSQUITO) – 2

No historial de qualquer publicação periódica, o número 1 representa o primeiro contacto com os leitores, o arranque para a vida, e o número 100 a consolidação de um longo caminho percorrido (dois anos, no caso das revistas semanais), a passagem do “gatinhar” e dos primeiros passos ainda incertos e hesitantes para uma postura mais firme e confiante.

Por isso, esse número centenário, sinónimo de vitalidade e esperança — em contraste com o significado que tem na existência humana —, é geralmente comemorado de forma sugestiva, ataviando-se com novas galas: cores mais garridas, um novo cabeçalho ou uma bela ilustração que fique na memória dos leitores. Nem sempre todos esses atributos se englobam na mesma capa.

Mas casos há em que o número 100 parece ficar esquecido, sem se distinguir — na correnteza das capas com grafismo sempre igual — dos seus companheiros de jornada, sem merecer sequer dos seus editores uma breve nota de rodapé.

Nos dois exemplos que hoje apresentamos, essas diferenças, a nível gráfico, saltam particularmente à vista: a capa d’O Mosquito nº 100 e a capa homóloga do Diabrete, separadas por cinco anos de intervalo e por outras características estéticas e morfológicas que num exame, mesmo ligeiro, não passam despercebidas, dando vantagem ao Diabrete, com apresentação mais garrida, o mesmo número de páginas (8), mas em formato ligeiramente maior, e um cabeçalho mais decorativo.

Diabrete nº 100Desde logo, caiu no goto dos leitores a vistosa imagem da capa, criada pelo traço fantasista de Fernando Bento, mestre das artes figurativas nacionais, enquanto que O Mosquito se limitou, fiel à rotina que seguia desde os primeiros números, a uma página das viagens de D. Triquetraque, história humorística curta ilustrada pelo notável artista catalão Arturo Moreno.

Verdade se diga que o sumário deste número (como dos anteriores) era de respeito, pois incluía mais três histórias aos quadradinhos, todas de origem inglesa, com destaque para a longa saga de Rob, o juvenil herói de “Pelo Mundo Fora”, magistralmente ilustrada por Walter Booth, e para as animadas peripécias de um irresistível trio de aventureiros, “O Capitão Bill, o Grumete Bell e o Cozinheiro Ball”, criação de Roy Wilson, outro grande nome da BD inglesa. Assinale-se também uma história que ficaria incompleta, “Beric, o Bretão”, passada na antiga Roma, com desenhos (ainda incipientes) de Jock McCail. que foi também um prolífico autor de séries de aventuras. Para completar o sumário, não faltava uma novela policial em episódios, “Rudy Carter, G-Man”, e um conto do Oeste, ambos com assinatura de Raul Correia. E ainda, em separata, uma construção de armar realizada pelo Tiotónio: “Grande Locomotiva” (folha 8, de um total de 17).

Nenhuma revista juvenil, em 1937, oferecia tantas doses de aventura, emoção, audácia, humor e fantasia, por tão pouco dinheiro. Mesmo não tendo nada de especial em relação aos anteriores, esse número centenário valia bem o seu preço: 50 centavos (5 tostões). Registe-se, igualmente, a nota inserida na coluna do correio, rubrica muito apreciada pela maioria dos leitores, devido sobretudo ao cunho inconfundível da prosa de Raul Correia, que, em nome d’O Mosquito, respondia espirituosamente às cartas da garotada. Nessa nota, ao lado de mais um poema do Avozinho, lia-se o seguinte (ampliar a imagem):

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Mosquito 100 pag 4 e 5

Ao requinte gráfico de Fernando Bento, no Diabrete, correspondia, assim, n’O Mosquito, o estro literário de Raul Correia. Um e outro dignos do festivo e simbólico número 100, que ambos — à distância de cinco anos, convém repetir — pretenderam assinalar com maior ou menor exuberância. Verdade se diga, mais uma vez, que O Mosquito preparava um número de Natal digno dos seus pergaminhos. E esse número seria precisamente o 101… como podem ver no post publicado em 31/12/2014.

Voltaremos, numa próxima oportunidade, ao Diabrete, para descrever também, com o devido relevo, o “suculento” sumário do seu nº 100.

NOS 80 ANOS DE “O MOSQUITO” (por F. Cardoso) – 2

A interrupção da publicação de “O Mosquito”, em 24 de Fevereiro de 1953, no n.º 1412, levou posteriormente outros “editores amadores” e, por fim, uma editora profissional a tentar ressuscitar este jornal infantil, mas sem qualquer sucesso.

Vamos, assim, debruçar-nos sobre essas várias tentativas de dar continuidade a um jornal que, nas décadas de 30 e 40 do passado século, foi um grande sucesso editorial no campo da imprensa infantil portuguesa.

José RuyA primeira tentativa ocorreu de 1960 a 1961, quando o desenhador José Ruy (1930), antigo colaborador deste jornal infantil, se associou ao jornalista desportivo Ezequiel Carradinha e no dia 16 de Novembro de 1960 lançaram o n.º 1 desta 2ª série de “O Mosquito”, domiciliada primeiro em Lisboa e depois na Amadora, parceria que durou até ao fascículo n.º 14, de 15 de Fevereiro de 1961.

A partir do fascículo n.º 15, ficou José Ruy sozinho à frente desta iniciativa editorial e até ao n.º 30, de 7 de Junho de 1961 (imagem mais à frente), dia em que esta revista interrompeu a sua publicação, ficando com as suas várias histórias por concluir.

Nesta 2ª série de “O Mosquito”, estas seguiam a linha das apresentadas na anterior 1ª série. Vejamos seguidamente as imagens do primeiro e do último fascículo da 2ª série deste jornal infantil, assim como do seu principal promotor.

Mosquito 1 e 30

Poucos meses depois, é feita nova tentativa “amadorística”, desta vez por António da Costa Ramos, um entusiasta de “O Mosquito”, residente no Algueirão, que lançou uma 3ª série deste jornal infantil, iniciada no dia 14 de Outubro de 1961 e que durou até ao n.º 4, datado de 22 de Novembro de 1961, dia em que interrompeu a sua publicação.

Nesta iniciativa editorial, cada fascículo apresentava uma pequena história completa de autor inglês e já publicada em “O Mosquito” inicial. Vejamos imagens dos seus primeiro e quarto fascículo, com capas desenhadas pelo próprio editor.

Cardoso - Mosquito n 1 e 2 costa ramos

Catorze anos depois, um novo entusiasta e saudosista de “O Mosquito”, Fernando de Andrade, residente em Lisboa e desenhador em ateliers de arquitectura, aventurou-se a lançar a 4ª série deste jornal infantil, no dia 31 de Dezembro de 1975, apresentando uma pequena história completa de distribuição da Agência Dias da Silva, de Lisboa, O Anão Diabólico”, tendo esta nova série ficado reduzida só àquele fascículo.

Vejamos a seguir as imagens da capa e da primeira página da história que publicou.

Nove anos depois, a Editorial Futura, instalada na Avenida 5 de Outubro, n.º 317 -1º, frente à antiga Feira Popular de Lisboa, resolveu publicar a 5ª série de “O Mosquito”, dirigida por José Chaves Ferreira e coordenada por Jorge Magalhães.

C. Ferreira e J. Magalhães

Saíram doze números, sendo o primeiro em Abril de 1984 e o último em Janeiro de 1986, mas com as histórias todas finalizadas. Esta última série apresentou aventuras modernas, tanto de autores estrangeiros como portugueses.

Veja-se as imagens do primeiro e do último número que foram publicados.

Mosquito 5ª serie 1 e 12

Com estas capas da 5ª série de “O Mosquito”, termina-se a evocação desta revista no ano do 80º aniversário do seu aparecimento.

[Nota à margem: Houve ainda quatro Almanaques, alusivos também a “O Mosquito”. publicados anualmente pela mesma editora entre Novembro de 1983 e Novembro de 1986. O que estava previsto para sair no ano seguinte foi suspenso à última hora – J.M.]

JOSÉ GARCÊS – 70 ANOS DE CARREIRA ARTíSTICA

Segundo informação de Carlos Gonçalves, membro da direcção do Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), a partir de 15 de Março, e na continuidade da comemoração dos 80 anos da revista O Mosquito, a exposição que se encontra na Biblioteca Nacional (Campo Grande) irá também homenagear o mestre José Garcês, pelos seus 70 anos de carreira na 9ª Arte, iniciada em 1946 nas páginas de O Mosquito. Uma mostra das suas obras, que encantaram, divertiram e instruíram várias gerações de leitores, tanto pela beleza estética como pelo valor pedagógico de muitas delas, estará patente ao público até 16 de Abril, naquela prestigiosa instituição cultural.

Por deferência do CPBD, apresentamos seguidamente algumas fotos dessa exposição, tiradas por João Manuel Mimoso. Entre os itens mostrados ao público destaca-se a imponente construção do Mosteiro da Batalha, montada propositadamente pelo seu autor, José Garcês, para figurar nesta merecida homenagem.

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NOS 80 ANOS DE “O MOSQUITO” (por F. Cardoso) – 1

Mosquito pequeno 2 725Como os ecos das celebrações do 80º aniversário d’O Mosquito ainda não esmoreceram — visto continuar patente até ao fim deste mês a mostra que lhe foi dedicada pela Biblioteca Nacional, em parceria com o Clube Português de Banda Desenhada, que também organizou duas exposições na sua sede —, temos o grato prazer de apresentar neste blogue um artigo da autoria de F. Cardoso, profusamente ilustrado e recheado de apontamentos históricos e documentação com inegável interesse acerca da mais emblemática revista infanto-juvenil portuguesa, focando inclusivamente os vários locais onde funcionaram as suas redacções e as suas oficinas gráficas, que ao longo das últimas décadas se tornaram ponto de romaria para muitos dos seus antigos leitores e colaboradores, sobretudo o prédio situado no bairro dos jornais, em pleno Bairro Alto.

Além de ser um fenómeno raro de popularidade, O Mosquito representa o elo de ligação mais perene e profundo entre várias gerações de entusiastas das histórias aos quadradinhos, que vêem na longevidade (nostálgica e afectiva) deste titulo um dos maiores símbolos da importância de um meio de expressão que artística e intelectualmente já atingiu os mais altos níveis e continua a despertar o interesse dos leitores comuns e dos eruditos, entronizado na nossa cultura popular com o nome idiomático de Banda Desenhada.

Resta-nos agradecer a F. Cardoso a amável partilha de um texto que pelo seu realce memorialista e iconográfico será certamente do agrado de todos os que nos visitam. Como o artigo é longo para os nossos padrões habituais, tivemos de dividi-lo em duas partes. Em breve apresentaremos a segunda.

Nos Oitenta Anos de “O Mosquito” – por F. Cardoso

Fez oitenta anos no dia 14 de Janeiro de 2016 que, numa 3ª feira, apareceu à venda em
Lisboa o primeiro número do jornal infantil “O Mosquito”.

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Este semanário foi criado em 1936, por iniciativa de António Cardoso Lopes Júnior (1907-1985) e de Raul Correia (1904-1985), ficando este jornal infantil domiciliado numa oficina gráfica situada num prédio da Travessa das Pedras Negras, o n.º 1, junto à “Baixa” em Lisboa.

A 17 de Novembro de 1939, quando da publicação do n.º 201 (imagem em baixo), encontrava-se então já instalado no “Bairro Alto”, na Travessa de São Pedro n.º 9, rés-do-chão esquerdo.

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Anos mais tarde e depois de um sucesso editorial ímpar, os dois sócios separaram-se, devido a dificuldades financeiras, e quando o n.º 979 deste jornal infantil foi publicado, no dia 10 de Novembro de 1948, encontrava-se já sedeado no Largo Trindade Coelho, n.º 9 – 2º (imagem em baixo), também no “Bairro Alto”, mas agora com Raul Correia associado a António Homem Christo, da Editorial Organizações, Lda, que durante anos fora a distribuidora de “O Mosquito”.

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O último número de “O Mosquito”, na posteriormente considerada a sua primeira série, foi o 1412, publicado no dia 24 de Fevereiro de 1953 (uma 3ª feira).

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António Cardoso Lopes que, como desenhador, usava o pseudónimo de Tiotónio, continuou instalado na Travessa de São Pedro n.º 9, r/c esq., publicando um novo jornal infantil, “O Gafanhoto”, cujo primeiro número saiu a 11 de Dezembro de 1948. 

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Como tintinófilos, vamos agora inteirar-nos do que se passava com “Tintin”, nessa mesma altura. Quando “O Mosquito” surgiu nas bancas de jornais, as histórias deste herói belga ainda não eram publicadas em Portugal, sendo as Aventuras de Tim-Tim na América do Norte a primeira que “O Papagaio” apresentou em Lisboa aos seus jovens leitores, no dia 16 de Abril de 1936 (uma 5ª feira).

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No entanto, foi no dia 16 de Janeiro de 1936 que, em Bruxelas, o “Le petit vingtième”, com mais duas páginas de L’oreille cassée, apresentou a imagem de “Tintin” mais próxima do aparecimento de “O Mosquito”, como seguidamente se pode ver.

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HISTÓRIAS DO (MEU) AVOZINHO – 6

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VI

Depois de Benfica, os meus avós viveram uns anos na casa da minha tia Fernanda (a Bijéu), que na altura estava fora do país por motivos profissionais. Esta casa, na Rua Carlos Mardel, ali ao Areeiro, foi igualmente uma segunda casa para mim e foi neste período que comecei a ler muitas das suas coisas e a ganhar consciência, talvez ainda inconsciente, da importância do seu trabalho. Foi nesta casa que tive a certeza de que a minha vida futura passaria pelo desenho e pela escrita. Foi também nesta casa que, uma noite, a minha avó descobriu que eu partilhava um sinal vermelho com o meu avô, exactamente no mesmo sítio do corpo! Um sinal de sangue, como lhe chamam…

Recordo-me com nitidez da cortesia e do “cuidado” com que falava sempre aos empregados de mesa do Isaura, o restaurante na Avenida de Paris onde íamos jantar habitualmente, e da deferência carinhosa que todos lhe prestavam. Também este restaurante ainda funciona e mantém o nome.

A única memória má desta casa foi um ligeiro AVC que a minha avó sofreu e que deixou leves sequelas durante um período de tempo. Felizmente, o seu estado foi melhorando, até recuperar totalmente a lucidez e a tenacidade.

Uma característica teimosa do meu avô era a sua recusa absoluta de ir a médicos. “Se estiver a morrer prefiro não saber”, costumava dizer… É certo que não me lembro de o ver doente. Já nos “setentas”, continuava a trabalhar com o mesmo prazer e energia nos Amigos do Livro e em traduções. Ia para Miraflores todos os dias, em dois transportes diferentes e voltava da mesma forma, muitas das vezes para se sentar à frente da Olivetti e continuar o trabalho, noite dentro!

Entretanto, a minha tia voltou e os meus avós mudaram-se para Santo Amaro de Oeiras, muito perto da casa do meu tio Mário, que tinha uma vivenda com um jardim, onde me lembro de nós os três fazermos tiro ao alvo com a sua “pressão de ar”, uma “Diana 25”. Por falar em tiro ao alvo, talvez poucos saibam que o meu avô era um excelente atirador, tendo mesmo recebido uma medalha num campeonato de tiro! Fiquei com a sua medalha. Durante a permanência na “Linha”, quantas vezes “obriguei” os meus pais a levarem-me de Lisboa para Oeiras, só para dormir na casa deles! Nas férias nem se fala, até porque tinha um quarto para mim…

Nesta casa, o meu Avô apagou 75 velas e recordo-me da festa especial que lhe fizeram, com poemas e textos que os filhos lhe escreveram, leram e dedicaram!

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Como decerto já notaram, os meus avós mudavam frequentemente de casa! Antes de Benfica, viveram na Av. Manuel Damaia, na Rua do Zaire, no Bairro das Colónias, em Oeiras, na Av. Almirante Reis, na Amadora… Mas essas casas não conheci… Este facto deveu-se a uma mania da minha querida avó, que não conseguia estar muito tempo no mesmo sítio! Ao meu avô, que acedia a todos os seus desejos — menos o de ir ao médico — não lhe restava alternativa a não ser arrumar a trouxa e mudar-se para novo poiso! Com os filhos sempre por perto…

Já ambos na segunda metade dos setentas, os meus avós foram viver para casa da minha tia Adelaide, para poderem gozar os últimos anos de vida com companhia sempre por perto. Como alguns saberão, assim foi… Seria a sua última morada.

Lembro-me de irem entrevistar o meu avô sobre O Mosquito a esta casa, que fica por detrás da Av. de Roma, na Rua Conde Sabugosa, e onde vive ainda a minha tia com a bonita idade de 83 anos, mas aparentando menos vinte! A fotografia do meu avô que aparece na entrevista do nº 1 da última série d’O Mosquito foi tirada na sala de jantar desta casa.

Continuei a vê-los quase todos os dias, porque almoçava sempre lá vindo do Liceu e voltava ao fim do dia para ir ter com os meus primos e amigos do bairro. Aliás, e como seria de esperar, a casa dos meus tios tornou-se no ponto de encontro diário de toda a família. Para terem uma ideia da animação que ali reinava, deixo-vos uns números daquela altura: oito filhos com os respectivos maridos e mulheres, em visitas regulares e por vezes diárias, mais vinte e três netos e dois bisnetos a “circular” por ali!

CURIOSIDADES & ANOMALIAS – 1

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Entre as muitas curiosidades d’O Mosquito que se registaram durante um longo período de dezassete anos — a algumas poderemos mesmo chamar “anomalias”, pelo seu carácter mais ou menos bizarro —, assinalamos hoje duas capas (ambas alusivas a histórias aos quadradinhos inglesas) em que as datas deviam ter sido alteradas, mas não foram, pois trata-se dos primeiros números publicados em 1943. Distracção dos tipógrafos e do responsável gráfico da revista (apesar da sua larga experiência), o Tiotónio ou António Cardoso Lopes Jr. — e logo em dois números seguidos!

O novo ano só apareceu correctamente inscrito no cabeçalho do nº 370, de 9 de Janeiro desse ano da graça para o mais garrido jornal infantil português do seu tempo, mas de desgraça para a maior parte do mundo (onde lavrava uma guerra sangrenta que causaria ainda muitas vítimas e terrível devastação).

Atente-se mais uma vez na bela capa desse número, da autoria do jovem artista Eduardo Teixeira Coelho ou E.T. Coelho (ou ainda ETC, como gostava de assinar), a quem O Mosquito ficaria a dever alguns dos seus maiores êxitos. E que foi, aliás, o inspirado criador da página anexa de Curiosidades — estas de carácter menos anómalo —, uma rubrica publicada nessa nova fase da revista e muito apreciada pela quase generalidade dos leitores (isto é, pelos miúdos mais espertos e ávidos de saber).

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CANTINHO DE UM POETA – 19

Extraído do Jornal do Cuto nº 2, de 17 de Julho de 1971, com uma sugestiva ilustração de José Baptista (Jobat), eis mais um inspirado soneto de Raul Correia, o carismático Avozinho d’O Mosquito, cujo estro poético ressurgiu nos anos 70, nas páginas do jornal fundado por Roussado Pinto, um dos seus maiores admiradores e amigos.

Embora não voltasse a usar o pseudónimo que tão idolatrado fora pelos leitores d’O Mosquito, mesmo sem saberem quem era o autor que estava por detrás dele, Raul Correia conquistou novos leitores e admiradores, tornando-se um nome tão conhecido como os de E.T. Coelho e Jesús Blasco junto de um grupo ecléctico de entusiastas da BD, contagiados pelo interesse que a recém denominada 9ª Arte começava a despertar noutros media.

E esse revivalismo fomentado pelo Jornal do Cuto — onde Roussado Pinto escrevia textos encomiásticos sobre os seus ídolos, como o que saiu no nº 2, dedicado a Raul Correia (ler mais abaixo), contribuiu também, em larga escala, para que a mais emblemática revista juvenil dos anos 40, O Mosquito, fosse alvo de um renascimento e de uma consagração que se tornou um dos fenómenos mais singulares da BD portuguesa.

J- Cuto - Correio 060