Como referi no “número” anterior (retomando um hábito dos bons velhos tempos), o novo figurino d’O Mosquito foi uma espécie de “formato de guerra” para fazer face à concorrência, depois de Raul Correia se ter apercebido de que a fórmula em que insistira durante ano e meio já passara à história. O facto é que nessa nova fase, com séries e heróis da estirpe de Garth, Buck Ryan, Lesley Shane, Jed Cooper, Rex Morgan, Terry e os Piratas (os três primeiros de origem inglesa), algumas séries francesas de bons autores como Paul Gillon, com o seu célebre herói da selva Lince (“O Leão de Neve”, “A Vingança dos Macacos-Aranhas”), Pierre Leguen (“A Ilha Misteriosa”, “A Fuga do Cachalote”, “O Enigma do Oceano”), Lucien Nortier (“A Febre da Selva”, “Estrela da Manhã”) e outros — mais o “Cantinho dos Leitores”, secção de grande êxito destinada às produções artísticas e literárias dos jovens talentos, e o regresso de velhos conhecidos como Serafim e Malacueco, os reis da comicidade pura, cujas mirabolantes facécias tinham divertido várias gerações —, O Mosquito parecia apto a superar as dificuldades e a continuar a luta contra os seus rivais, mesmo em condições mais desfavoráveis, pois não tinha o apoio de grandes editoras nem recursos publicitários que lhe permitissem enveredar também pela senda dos concursos e sorteios com prémios valiosos.
Disso se queixava com azedume Raul Correia, nas respostas às cartas dos leitores, mas sem baixar os braços nem perder as ilusões, pois acreditava firmemente que bastava uma boa selecção de material, incluindo a prosa do Eça, e a colaboração de E. T. Coelho e de outro velho amigo, o novelista Orlando Marques — que voltara também, de livre e espontânea vontade, a oferecer-lhe os seus préstimos —, para continuar a jornada sem desfa- lecimentos durante mais algum tempo.
O prazo seria, infelizmente, mais curto do que ele esperava, pois no dia 24 de Fevereiro de 1953 — ao cabo de 40 números publicados nessa última fase, a 5ª durante a sua existência —, O Mosquito chegou ao fim do caminho… apesar de ter deixado há algum tempo (desde o nº 1399) de ser bissemanário para se tornar semanário, como todos os concorrentes. Para assinalar (no nº 1412) o brusco remate da odisseia, apenas uma breve nota no rodapé de uma página, procurando acalentar ainda as ilusões dos leitores mais estóicos, aqueles que tinham permanecido sempre fiéis ao “velho camaradão”, ao “jornal mais bonito” de outros tempos, prometendo-lhes um regresso próximo, com aliciantes novidades… até no preço!
No meu caso, essa promessa não me convenceu e senti uma grande frustração por quase todas as histórias terem ficado incompletas, incluindo o “S. Cristóvam”, de Eça de Queirós, ilustrado por E.T. Coelho.
Tinha acabado uma lenda do jornalismo infanto- -juvenil — e com ela a própria carreira de E. T. Coelho, em Portugal, e de Raul Correia como editor e novelista —, embora algumas tentativas de “ressurreição” fossem feitas nos anos seguintes, sem grande êxito, aliás, pois o modelo original não podia ser copiado e a sua fórmula já não se adaptava integralmente aos novos tempos. Ciente disso, José Ruy, director e editor da 2ª série, procurou aliar nessa recidiva alguns vestígios do passado a heróis e assuntos mais modernos.
Restam as memórias de uma revista que foi, de facto, o símbolo de uma era em que as histórias aos quadradinhos recheavam de fantasias o imaginário de todos os rapazes (e de algumas raparigas), tanto dos mais abastados como dos mais pobres, dos que já andavam na escola primária ou no liceu e dos que ainda não sabiam ler…