O “MOSQUITO” À BEIRA DO FIM – 2

mosquito-1379-jed-cooperComo referi no “número” anterior (retomando um hábito dos bons velhos tempos), o novo figurino d’O Mosquito foi uma espécie de “formato de guerra” para fazer face à concorrência, depois de Raul Correia se ter apercebido de que a fórmula em que insistira durante ano e meio já passara à história. O facto é que nessa nova fase, com séries e heróis da estirpe de Garth, Buck Ryan, Lesley Shane, Jed Cooper, Rex Morgan, Terry e os Piratas (os três primeiros de origem inglesa), algumas séries francesas de bons autores como Paul Gillon, com o seu célebre herói da selva Lince (“O Leão de Neve”, “A Vingança dos Macacos-Aranhas”), Pierre Leguen (“A Ilha Misteriosa”, “A Fuga do Cachalote”, “O Enigma do Oceano”), Lucien Nortier (“A Febre da Selva”, “Estrela da Manhã”) e outros — mais o “Cantinho dos Leitores”, secção de grande êxito destinada às produções artísticas e literárias dos jovens talentos, e o regresso de velhos conhecidos como Serafim e Malacueco, os reis da comicidade pura, cujas mirabolantes facécias tinham divertido várias gerações —, O Mosquito parecia apto a superar as dificuldades e a continuar a luta contra os seus rivais, mesmo em condições mais desfavoráveis, pois não tinha o apoio de grandes editoras nem recursos publicitários que lhe permitissem enveredar também pela senda dos concursos e sorteios com prémios valiosos.

mosquito-1402-terry-e-os-piratasDisso se queixava com azedume Raul Correia, nas respostas às cartas dos leitores, mas sem baixar os braços nem perder as ilusões, pois acreditava firmemente que bastava uma boa selecção de material, incluindo a prosa do Eça, e a colaboração de E. T. Coelho e de outro velho amigo, o novelista Orlando Marques — que voltara também, de livre e espontânea vontade, a oferecer-lhe os seus préstimos —, para continuar a jornada sem desfa- lecimentos durante mais algum tempo.

O prazo seria, infelizmente, mais curto do que ele esperava, pois no dia 24 de Fevereiro de 1953 — ao cabo de 40 números publicados nessa última fase, a 5ª durante a sua existência —, O Mosquito chegou ao fim do caminho… apesar de ter deixado há algum tempo (desde o nº 1399) de ser bissemanário para se tornar semanário, como todos os concorrentes. Para assinalar (no nº 1412) o brusco remate da odisseia, apenas uma breve nota no rodapé de uma página, procurando acalentar ainda as ilusões dos leitores mais estóicos, aqueles que tinham permanecido sempre fiéis ao “velho camaradão”, ao “jornal mais bonito” de outros tempos, prometendo-lhes um regresso próximo, com aliciantes novidades… até no preço!

No meu caso, essa promessa não me convenceu e senti uma grande frustração por quase todas as histórias terem ficado incompletas, incluindomosquito-1412-s-cristovc3a3o-9271 o “S. Cristóvam”, de Eça de Queirós, ilustrado por E.T. Coelho.

Tinha acabado uma lenda do jornalismo infanto- -juvenil — e com ela a própria carreira de E. T. Coelho, em Portugal, e de Raul Correia como editor e novelista —, embora algumas tentativas de “ressurreição” fossem feitas nos anos seguintes, sem grande êxito, aliás, pois o modelo original não podia ser copiado e a sua fórmula já não se adaptava integralmente aos novos tempos. Ciente disso, José Ruy, director e editor da 2ª série, procurou aliar nessa recidiva alguns vestígios do passado a heróis e assuntos mais modernos.

Restam as memórias de uma revista que foi, de facto, o símbolo de uma era em que as histórias aos quadradinhos recheavam de fantasias o imaginário de todos os rapazes (e de algumas raparigas), tanto dos mais abastados como dos mais pobres, dos que já andavam na escola primária ou no liceu e dos que ainda não sabiam ler…

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“O MOSQUITO” À BEIRA DO FIM – 1

mosquito-n-1373 Já decorreram 62 anos… mas parece que foi ontem que tive nas mãos o último número d’O Mosquito, acabado de comprar numa tabacaria do bairro da Graça, em Lisboa, perto do qual a minha família então residia. Esse mês de Fevereiro de 1953 foi decisivo e fatal para O Mosquito. Dez anos antes era quase impossível prever esse desfecho, porque a revista, como já assinalei, estava numa curva ascendente que a conduziria ao pico da fama e do êxito comercial. Como sempre acontece, essa curva começou a declinar num momento crítico, em 1948, quando os dois sócios fundadores se malquistaram e separaram, ficando António Cardoso Lopes Jr. com as oficinas gráficas e Raul Correia com a propriedade do título.

Confrontado com a forte concorrência do Mundo de Aventuras e de um novo e ambicioso rival, o Cavaleiro Andante, que surgiu nas bancas em Janeiro de 1952, Raul Correia — agora sozinho ao leme da nau administrativa — teve de forçar a barra e procurar novos rumos. As escolhas não foram fáceis… numa altura em que as tiragens diminuíam a olhos vistos e o dinheiro começava a faltar para pagar a tempo e horas aos colaboradores, às oficinas, aos fornecedores de papel e de material para publicação. Um bico de obra que deve ter tirado muitas horas de sono a Raul Correia, embora se tivesse associado a António Homem Christo, mosquito-n-13871o homem forte da Editorial Organizações, empresa com sólidas raízes no mercado e que já há muitos anos era distribuidora d’O Mosquito.

Em tempo de “vacas magras”, como agora, fazem-se contas à vida e corta-se no que se pode cortar (às vezes, até no mais essencial). No caso d’O Mosquito foi o contrário… A revista, que regressara ao tamanho pequeno no nº 1201, de 27/12/1950, voltou a aumentar de formato e reduziu o número de páginas de 16 para 12 — mas, na verdade, quase o duplicou, atendendo às novas medidas —, a partir do nº 1373, de 20/8/1952, cujo renovado aspecto gráfico parecia augurar um futuro mais auspicioso. Entre outras razões para não desiludir as expectativas dos leitores fiéis, havia o regresso de E.T. Coelho, cujo esplêndido traço criou um novo e sugestivo cabeçalho e se esmerou na adaptação de mais alguns contosmosquito-n-1396 de Eça de Queirós: “O Tesouro”, “A Aia” e “S. Cristóvam”.

O reforço era precioso, depois de uma longa ausência, e os leitores embandeiraram em arco. Continuando a ser bissemanário, o que talvez tivesse sido a opção mais errada, O Mosquito apresentava ainda uma boa selecção de histórias inglesas e americanas, que destoavam largamente, pela sua temática, das que publicara em tempos idos. Eram histórias para adultos (como, aliás, as do Mundo de Aventuras), destinadas aos jornais diários e não às revistas juvenis, mas a sua estrutura narrativa, em moldes muito mais modernos, impôs-se rapidamente aos leitores, cuja consciência crítica e maturidade selectiva talvez não fossem tão ligeiras como alguns pensariam. Aliás, comparativamente à década anterior, O Mosquito já não era lido em larga percentagem por crianças da 4ª classe, mas por adolescentes que andavam no liceu ou na escola comercial e alguns, até, na faculdade.

Mas para não alongar demasiado este texto, deixo o resto da história para o próximo “número”, como se dizia e escrevia noutros (belos) tempos…

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SEPARATAS & CONSTRUÇÕES DE ARMAR – 1

ARTISTAS DE CINEMA (1)

Como já tivemos ocasião de referir, O Mosquito, além das habituais folhas com construções de armar — que os leitores mais habilidosos, os pequenos “engenheiros” de tesoura e cola, armados de zelo e paciência, já não podiam dispensar —, começou a inserir no nº 409, de 26/5/1943, uma série de diminutas separatas com fotografias dos grandes ídolos da 7ª Arte, que atraíam espectadores de todas as idades às salas de espectáculo (então chamadas cine-teatros), frequentadas assiduamente pelas famílias portuguesas em todo o país.

Damos seguidamente a lista das 12 primeiras estampas, que eram numeradas (mas de forma caótica, havendo repetições e saltos de numeração).

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1 – Cary Grant; 2 – Jeanette Mac Donald; 3 – Fred Astaire; 3 bis – Mirna Loy e Wiliam Powell; 4 – Katherine Hepburn; 5 – Dorothy Lamour e Ray Milland; 5 bis – Clark Gable; 6 – Douglas Fairbanks Jr.; 7 (não existe); 8 – Bing Crosby; 9 – Spencer Tracy; 10 – Charles Laughton; 11  Fred Mac Murray.

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Talvez por se extraviarem com mais facilidade, devido ao seu formato, estas mini-separatas (no total de 36) tornaram-se muito raras e só graças aos bons ofícios e ao mérito de outros esforçados coleccionadores, como Carlos Gonçalves, cuja colaboração agradecemos, foi possível preencher as nossas lacunas, a fim de podermos partilhar estas memórias cinéfilas com os leitores que também se interessam pelo tema.

TOMMY, O RAPAZ DO CIRCO – 8

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Tommy disse adeus, sem hesitações, ao seu lar e aos seus amigos, preparando-se para conhecer outras terras e conquistar dentro do circo uma posição mais de acordo com os seus sonhos… desejoso, sobretudo, de fazer boa figura ao pé de Sue, que continua a “espicaçá-lo” com as suas caprichosas atitudes.

Por isso, quando Mr. Bingham o encarrega de um serviço especial, por causa de outro circo ambulante cuja má reputação pode causar-lhes prejuízos, o nosso herói vê chegado o momento de provar o que vale…

Leiam seguidamente mais algumas tiras desta magnífica criação do autor americano John Lehti, apresentadas n’O Mosquito nº 914, em 27/3/1948, e correspondentes à publicação original de 13 a 23 de Janeiro de 1947.  

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O MOSQUITO EM 1943 – 7

A partir do nº 410, publicado em 29 de Maio de 1943, os problemas com a aquisição de papel, que a guerra tornara um produto extremamente raro e cada vez mais valioso, pareciam ter-se atenuado e até a qualidade melhorou, deixando de aparecer papel de cor e tão fino que as imagens e as letras se viam à transparência.

mosquito-43-um-herc3b3i-de-17-anos-1-6422Nesta série de 10 números que hoje passamos em revista (do 412 ao 421), as capas d’O Mosquito, embora mantendo o mesmo cabeçalho, voltaram a enfeitar-se com cores garridas, que realçavam o deslumbrante e sedutor grafismo das ilustrações cada vez mais pujantes e dinâmicas de E. T. Coelho, em contraste com a monótona e insípida bicromia de alguns dos números anteriores.

 Acabada a longa novela de ambiente exótico “Sunyana, o Rebelde”, assinada por Robert Bess (Roberto Ferreira), regressaram logo a seguir os contos, não menos empolgantes, de Orlando Marques e Lúcio Cardador, secundados por mais uma história de guerra de A. S. Lopes (Augusto Simões Lopes, irmão de António Cardoso Lopes (Tiotónio), e por uma aventura africana, de autor desconhecido, todos magnificamente ilustrados por Eduardo Teixeira Coelho. O talentoso desenhador, que ainda não completara 25 anos, mosquito-43-correios-de-todo-o-mundo-680continuava a rechear O Mosquito com ilustrações de todos os géneros — abrangendo pequenos anúncios, rubricas de curiosidades e de trabalhos manuais, como já fizera no Engenhocas, outra revista das Edições O Mosquito, orientada por Tiotónio —, numa demonstração de grande versatilidade, tanto no estilo infantil e humorístico como no aventuroso e realista. Pela primeira vez, até os cabeçalhos dos contos e das novelas de aventuras, pela sua forma inspirada e inovadora, desde o desenho harmonioso das letras ao arranjo gráfico, suscitavam o interesse e a admiração dos leitores, aflorando também como trabalhos que mereciam ser valorizados no cômputo geral da revista.

mosquito-43-mosquito-106-6441Mantinham-se em publicação duas histórias aos quadradinhos inglesas, “O Capitão Meia-Noite” (cuja 1ª série se tinha estreado no nº 106, de 20/1/1938), e “Luta Sem Tréguas”, ambas do mestre Walter Booth — embora na segunda despontasse, por vezes, a intervenção de um medíocre colaborador —, enquanto que, pelo lado português, o vibrante western “Falsa Acusação”, do jovem e promissor estreante Vítor Péon, continuava a fazer-lhes honrosa companhia. No nº 417 surgiu uma nova história italiana, com o título “Ivan, o Terrível”, ilustrada sem grandes rasgos, mas com artesanal eficácia, por Giorgio Scudellari, cujo estilo já se tornara familiar aos leitores d’O Mosquito. Além disso, o episódio lia-se com interesse, destacando-se pelo seu enredo como um dos melhores dessa série.                                           

mosquito-43-separata-cary-grant-645Como já referimos, o airoso e popular bissemanário, a par das habituais folhas com construções de armar, tinha começado a inserir no nº 409 uma série de pequenas separatas de género muito diferente, com fotografias de artistas de cinema (alguns dos quais são recordados e admirados ainda hoje). Noutra rubrica, com mais informações sobre O Mosquito, satisfaremos a curiosidade dos nossos leitores cinéfilos, apresentando na íntegra essa colecção de raríssimas separatas.

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CANTINHO DE UM POETA – 5

Cantinho de um poeta - 5

Poema publicado no Jornal do Cuto nº 33, de 16/2/1972, com ilustração de Jobat (José Baptista), em que mais uma vez assoma o tom melancólico e profundamente lírico que tanto eco tinha, no passado, entre os admiradores do Avozinho.

Seguidamente, podem ler a terceira parte do artigo de Raul Correia “De Como Nasceu e Viveu O Mosquito”, reproduzido do Jornal do Cuto nº 22, de 1/12/1971 — uma das partes mais curiosas, em que R. C. recorda espirituosamente alguns factos “cujo carácter anedótico nada deve à imaginação”, ocorridos nos primeiros e heróicos tempos da vida de um jornal que se tornaria um símbolo da imprensa juvenil portuguesa do século XX.

Nona Arte - 5 e 6

TOMMY, O RAPAZ DO CIRCO – 7

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Após movimentada perseguição, Tommy e Sue conseguem apanhar Satã, o tigre fugido de uma jaula do circo destruída num acidente. A recompensa de Tommy por ter encurralado o perigoso felino é absolutamente inesperada… e vai ter consequências!

Eis mais dez tiras desta magnífica série realizada por John Lehti, extraídas dos nºs 911 a 913 d’O Mosquito e correspondentes à publicação original de 1 a 11 de Janeiro de 1947.

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