Sob esta epígrafe, surgiu no Jornal do Cuto, a partir do nº 110, de 10/9/1975 — primeiro de uma nova fase, depois de um longo interregno, em que a revista voltou à periodicidade semanal, com renovado aspecto gráfico —, uma rubrica assinada por Roussado Pinto, nome mítico da BD portuguesa, que, num assomo de nostalgia ditado pela sua longa experiência e pelo seu seguro instinto jornalístico, resolveu abrir os seus “dossiers”, desfiando muitas recordações da vida profissional que o ligara, durante várias décadas, a alguns dos títulos mais emblemáticos da nossa imprensa juvenil, desde O Pluto, O Papagaio, O Mosquito e o Mundo de Aventuras ao Titã, ao Flecha, ao Valente, a maioria dos quais dirigiu e editou por sua conta e risco, com notável persistência, mas sempre com avultados prejuízos económicos.
Nessa apreciada secção memorialista da sua última e épica aventura editorial — quando lançou o Jornal do Cuto e muitas outras publicações, depois de ter criado uma nova editora, a Portugal Press —, Roussado Pinto não fez segredo do seu passado, evocando pitorescamente, com grande minúcia e perfeita lembrança dos factos, as peripécias que vivera nas redacções desses jornais, os colaboradores com quem partilhara os seus sonhos, os seus êxitos e os seus desaires… as figuras que conhecera e de quem se tornara próximo, num meio recheado de talentosos artistas, como Jesús, Alejandro e Adriano Blasco, Eduardo Teixeira Coelho, Vítor Péon, José Ruy, Stuart Carvalhais, António Barata… os mestres que lhe tinham dado a mão, no início da sua carreira, como A. Cardoso Lopes e Raul Correia, e a quem ficara ligado por profunda e duradoura amizade.
Quis o acaso que, ao folhear alguns números do Jornal do Cuto onde se insere esta rubrica — com um cabeçalho desenhado pelo saudoso José Baptista (Jobat) —, nos saltasse à vista um texto dedicado aos colaboradores literários d’O Mosquito, precisamente um dos temas que encetámos muito recentemente neste blogue. Com o seu estilo vivaz e colorido, apoiado numa memória prodigiosa, Roussado Pinto traça, no seu artigo, um breve perfil do grupo heteróclito de jovens novelistas que animou a redacção d’O Mosquito, nos anos 40, sob a tutela quase “paternalista” de um mentor literário cuja modéstia como poeta se encobria com o pseudónimo de “Avozinho”.
Graças a Raul Correia, o mestre que os apadrinhou e aconselhou desde o primeiro instante, abrindo-lhes sem reservas as páginas da revista, estimulando-os e inspirando-os com a sua excepcional veia narrativa, floresceu n’O Mosquito uma nova geração de novelistas que iria deixar uma marca indelével na imprensa juvenil portuguesa dessa época, não só porque tinham talento, mas também porque muitas das suas obras foram ilustradas por um artista de excepcional craveira chamado E.T. Coelho.
A nota de Roussado Pinto que seguidamente transcrevemos (reproduzindo-a directamente do Jornal do Cuto nº 125, de 24/12/1975), tem, pois, um interesse muito especial para os nossos leitores, como fidedigno e oportuno aditamento ao tema que continuaremos brevemente a abordar neste blogue.
As referências a O Mosquito preenchem muitas destas notas que Roussado Pinto retirou dos seus apontamentos, recheadas de episódios curiosos de que ele próprio foi testemunha nos bastidores da redacção, onde trabalhou como assistente de Cardoso Lopes, depois do sonho d’O Pluto, empresa a que meteu ombros durante os meses de Novembro de 1945 a Maio de 1946, ter sido bruscamente interrompido.
Por esse motivo, tencionamos continuar a apresentá-las no Voo d’O Mosquito, como preito de homenagem à memória e à obra pioneira de Roussado Pinto, assim como à revista que com tanto zelo e entusiasmo editou nos últimos anos da sua vida… e que foi também, em muitos aspectos, um prolongamento d’O Mosquito.