NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 10

Nesta rubrica, publicada entre os nºs 110 e 125 do Jornal do Cuto, Roussado Pinto desfiou muitas memórias d’O Mosquito e do tempo em que trabalhou na sua redacção, em contacto com Cardoso Lopes, E. T. Coelho, José Ruy, José Garcês, Stuart Carvalhais e outros grandes nomes da BD e das artes gráficas portuguesas.

No artigo que a seguir apresentamos, reproduzido do Jornal do Cuto nº 118, de 5/11/1975, Roussado Pinto evoca a figura de outro destacado colaborador d’O Mosquito, o novelista José Padinha, que por excessiva modéstia, ou por qualquer outro motivo, sempre assinou os seus trabalhos (mais de 30 novelas) com exóticos pseudónimos: Juan L. Guanche, Peter Tenerife, Gusmão Pó, J. Montesdeoca.

Aliás, o seu verdadeiro nome só se tornou conhecido muito tempo depois, graças à divulgação que dele fez Roussado Pinto no Jornal do Cuto e noutras publicações da sua editora, a Portugal Press, como a Colecção Juvenil Galo de Oiro, onde foram reeditadas, em 1973, duas novelas de Padinha: “A Nau Perdida” e “Maluna, a Espada Trágica”.

Como novelista, de estilo singular, “ao correr da pena” — que abordava, num ritmo febril, toda a espécie de temas aventurosos, criando, com exuberante fantasia, enredos mirabolantes e pitorescas personagens às quais deu também nomes bizarros —, José Padinha colaborou apenas n’O Mosquito, e por um breve período, entre 1943 e 1946. Depois disso, reapareceu subitamente na revista Flama, em 1950, assinando com um dos seus últimos pseudónimos, J. Montesdeoca, uma série de artigos (bem documentados) sobre alguns dos mais notáveis desenhadores portugueses dessa época: Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento, Vítor Péon, José Garcês, José Ruy e Vítor Silva.

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 9

roussado-pinto-foto-aNesta apreciada secção memorialista da sua última e (como sempre) atribulada aventura editorial — quando lançou, em 1971, o Jornal do Cuto e muitas outras publicações, depois de ter criado uma nova editora, a Portugal Press —, Roussado Pinto recorreu à sua memória nostálgica e aos seus vastos “dossiers”, evocando o meio onde trabalhou quando jovem, ao lado de editores como António Cardoso Lopes e Raul Correia, na redacção d’O Mosquito, e as figuras (mais tarde lendárias) dos talentosos artistas com quem conviveu entre essas quatro paredes, onde ressoava, de manhã à noite, o trepidar da grande e moderna máquina Rolland que imprimia milhares de revistas por hora, num ritmo monótono e incansável.

chicos-436-186Foi também na redacção d’O Mosquito que Roussado Pinto conheceu outra pitoresca figura aureolada já, nessa época, por justa fama, a distinta editora da revista Chicos, D. Consuelo Gil, que vinha com frequência a Portugal para apresentar (e vender) o trabalho dos seus melhores colaboradores, especialmente as historietas de Jesús Blasco e Emílio Freixas, dois artistas cujo excepcional talento era também muito apreciado pelos leitores portugueses, a tal ponto que sem eles O Mosquito e o Diabrete veriam as suas tiragens baixar rapidamente.

No nº 119 do Jornal do Cuto, com data de 12 de Novembro de 1975, Roussado Pinto descreveu, em estilo bem humorado, o seu primeiro encontro com a simpática senhora que, nos dois países da Península Ibérica, todos tratavam com deferência e respeito, elogiando os seus dotes de empresária e editora que conseguira fazer do Chicos, nascido no dealbar da guerra civil, o maior sucesso de sempre da imprensa infanto-juvenil espanhola. Com Blasco e Freixas como “cabeças de cartaz”…

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 8

roussado-pinto-foto-aJá aqui evocámos várias vezes a memória de Roussado Pinto, sobretudo a propósito da sua última e épica “aventura” editorial, depois de sucessivos desaires que nunca fizeram esmorecer o seu entusiasmo nem a sua paixão pelo ofício de editor e autor de Banda Desenhada.

Dando um novo passo, ainda mais ousado do que os anteriores (mesmo estando já com 44 anos), sem temer a concorrência, ainda mais forte do que no passado, o dinâmico editor, escritor e jornalista conseguiu finalmente concretizar, no verão de 1971, um dos seus maiores sonhos, criando um jornal com o nome de um herói que ficara indelevelmente ligado à sua carreira, o Jornal do Cuto, e uma empresa com bases comerciais suficiente- mente estáveis, a Portugal Press, responsável pelo lançamento de uma avalanche de revistas periódicas, algumas dignas também de ser lembradas, como as colecções Jaguar, Canguru, Herói, O Grilo, Êxitos da TV, Riquiqui, Enciclopédia “O Mosquito”, Modernos da Banda Desenhada, Pantera Negra, Lince, Galo, Flash Gordon, Spirit, Zakarella, Barbarella, etc, etc.

galo-no4-813Isto só no campo da BD, porque o “desafio” à concorrência foi ainda mais longe, inundando o mercado com inúmeras colecções de livros de todos os géneros, entre as quais se destaca a Galo de Ouro (com larga percentagem de autores portugueses) e a que tinha como mote as aventuras de Tarzan, o Rei da Selva, com a publicação integral (pela primeira vez no nosso país) dos 24 volumes escritos por Edgar Rice Burroughs.

No Jornal do Cuto, cujas páginas dão bem a ideia do eclectismo que reinava no espírito do seu director, juntando histórias clássicas oriundas d’O Mosquito e do Mundo de Aventuras (um pretexto para prestar home- nagem aos seus autores preferidos, como Jesús Blasco, E.T. Coelho, Hal Foster, Alex Raymond e José Luís Salinas) com modernas criações inglesas e americanas, surgiram também duas apreciadas rubricas, 9ª Arte e Notas de 30 Anos de Banda Desenhada, onde Roussado Pinto deu livro curso aos seus conhecimentos teóricos sobre as histórias aos quadradinhos e às suas memórias jornalísticas, desfiando curiosos episódios de uma intensa vida de “faz-tudo” nos bastidores da imprensa.

pantera-negra-no4-814E é evidente o prazer (que sabia sempre transmitir aos leitores) com que se referia pitorescamente a figuras notáveis que conhecera e de quem se tornara amigo, em tertúlias e redacções (como a d’O Mosquito, onde “estagiou” depois do fracasso do seu primeiro projecto editorial) repletas de excelentes colaboradores, cujos nomes e cujas obras foram, graças a si, resgatados do esquecimento (porque a memória dos jovens é curta): Eduardo Teixeira Coelho, Jesús Blasco, Jayme Cortez, Vítor Péon, António Barata, Cardoso Lopes, Raul Correia, Orlando Marques, José Padinha.

No artigo que hoje publicamos, reproduzido do Jornal do Cuto nº 112, de 24/9/1975, Roussado Pinto evoca a redacção de outro periódico onde trabalhou, a revista de actualidades O Século Ilustrado (virada para um público mais adulto), recordando alegres companheiros de trabalho, como Rodrigues Alves, Méco, Baltazar, e as partidas que pregavam uns aos outros, sempre suportadas com fair-play pelas suas “vítimas”… até chegar o momento da desforra!

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NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 7

roussado-pinto-foto-aSob esta epígrafe, como já recordámos várias vezes, surgiu no Jornal do Cuto uma rubrica assinada por Roussado Pinto, nome mítico da BD portuguesa, que — correspondendo aos pedidos e desafios dos leitores — resolveu desfiar um punhado de memórias da sua vida profissional, ligada, durante essas três décadas, a alguns dos títulos mais emblemáticos da nossa imprensa juvenil, desde O Pluto, O Papagaio, O Mosquito e o Mundo de Aventuras ao Titã, ao Flecha, ao Valente, a maioria dos quais dirigiu e editou à sua própria custa (ou associado a velhos amigos), com notável dinamismo e persistência, mas sofrendo quase sempre avultados prejuízos econó- micos, que ditaram o seu temporário afastamento da Banda Desenhada para se dedicar a outros ofícios.

As referências ao jornal que mais amou, O Mosquito, preenchem muitas dessas notas que Roussado Pinto redigiu de memória ou retirou dos seus apontamentos, recheadas de episódios pitorescos de que ele próprio foi testemunha nos bastidores da redacção, onde trabalhou durante algum tempo como assistente de Cardoso Lopes e Raul Correia, depois da carreira d’O Pluto, a sua primeira aventura editorial (entre Novembro de 1945 e Maio de 1946), ter sido ingloriamente interrompida.

Stuart, visto por AmarelheNo texto que a seguir reproduzimos — o primeiro desta série iniciada em 10/9/1975, no nº 110 do Jornal do Cuto —, Roussado Pinto recorda a forma (algo atribulada para um novato) como travou conhecimento com o mestre Stuart Carvalhais, que era também colaborador das Edições O Mosquito e visitava amiúde a redacção/oficina da Travessa de S. Pedro, onde todos, especialmente Cardoso Lopes, apreciavam a sua companhia.

Artista sem vintém, dotado de um talento prodigioso que esbanjava também às mãos cheias, preocupando-se primeiro com o trabalho e depois com a paga (quase sempre irrisória), Stuart distinguia-se da maioria dos seus colegas de  profissão (que trabalhavam, às vezes, nas mesmas condições) por nunca perder o espírito de boémio. 

Nota: para o Mosquito Magazine, publicação semanal dirigida e coordenada por Cardoso Lopes (mas que teve existência efémera, apesar do seu ecléctico e curioso recheio, extinguindo-se ao cabo de cinco dezenas de números), Stuart realizou uma série de capas com os mais variados motivos, que são dignas de figurar entre os seus bons trabalhos de ilustrador.  

Notas de BD - 7    

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 6

roussado-pinto-foto-aNas “Notas de 30 Anos de Banda Desenhada” publicadas no Jornal do Cuto, desde o nº 110, de 10/9/1975, Roussado Pinto deixou-nos um testemunho vivo e pitoresco da sua profunda ligação ao jornalismo juvenil e às histórias aos quadradinhos, mormente quando passou pela redacção d’O Mosquito, onde teve o privilégio de conviver com a “fina flor” dos seus colaboradores: António Cardoso Lopes (Tiotónio), Raul Correia, E.T. Coelho, José Padinha, Jayme Cortez, José Garcês e outros.

Evocar o seu nome significa, inevitavelmente, recordar também os pseudónimos que o celebrizaram, como os de Edgar Caygill e Ross Pynn. Usou-os em muitas obras, de maior ou menor importância e simbolismo na sua carreira, não porque quisesse passar, à força, por um escritor estrangeiro — imitando outros autores de novelas de aventuras —, mas porque sabia, com a sua profunda intuição literária, que esses nomes possuíam uma carga onírica que não se desvaneceria com o tempo, dando-lhe assim uma espécie de passaporte para a imortalidade.

Colecção Oeste 14Como já referimos noutra altura, esse fenómeno de transfiguração não “matou” a identidade do criador — antes pelo contrário, tornou-a indissociável dos seus nomes fictícios, fundindo-os num mesmo corpus literário, que nenhum dos seus leitores desconhecia. A fama e a forte personalidade do autor operaram automaticamente (e voluntariamente) essa osmose.

Continuando a homenagear a sua memória, ligada também, indelevelmente, à d’O Mosquito (de que foi um dos mais fiéis e entusiásticos propagandistas, sobretudo nos anos 70), apresentamos outra das suas “Notas”, reproduzida do Jornal do Cuto nº 113, de 1/10!1975.

Notas de 30 anos de BD - 6

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 5

roussado-pinto-foto-aDurante vários números, a partir da nova fase iniciada no nº 110, de 10/9/1975, o Jornal do Cuto publicou uma interessante rubrica, onde Roussado Pinto desfiava as suas memórias de mais de 30 anos de carreira profissional, ligada ao jornalismo e, em particular, às revistas infanto-juvenis, como O Pluto, O Mosquito, O Papagaio, O Mundo de Aventuras, o Titã, o Valente, o Flecha, títulos na sua maioria já desaparecidos quando criou a sua primeira editora, a Portugal Press, conseguindo finalmente materializar um dos seus maiores sonhos, ao lançar uma nova revista com “alicerces” para ser mais sólida e duradoura do que as anteriores em que esteve financeiramente envolvido.

Jornal do Cuto 126O Jornal do Cuto teve, na realidade, uma existência bastante mais assinalável do que muitos dos seus congéneres, embora não tivesse conseguido resistir, durante a crise de 1975/78, aos problemas de distribuição e à desmedida concorrência por parte de outros pequenos editores e do maior gigante do sector, a veterana e indestrutível (naquela época) Agência Portu- guesa de Revistas, que dominava o mercado, fazendo “tábua rasa” dos seus concorrentes, porque tinha oficinas e distribuição próprias, além de dezenas de empregados ao serviço de uma (ainda) sólida estrutura comercial.

Suspenso por duas vezes, o Jornal do Cuto só não ressuscitou à terceira — quando a Portugal Press saiu da situação de pré-falência, graças ao sucesso retumbante do Jornal do Incrível (outro projecto arquitectado a pulso por Roussado Pinto, que frutificou num meio onde não tinha concorrência) —, porque a fatalidade, de braço dado com a doença, veio, de repente, cobrar o seu tributo ao dinâmico e incansável editor/jornalista/repórter/escritor/argumentista de BD, que já resistira a dois enfartes.

Recordamos, a propósito, a notícia (com algumas “gralhas” que saltam à vista) publicada no diário A Capital, de 4/3/1985, no dia seguinte ao da sua morte.

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Nas suas “Notas de 30 Anos de Banda Desenhada”, Roussado Pinto deixou-nos um testemunho vivo e pitoresco da sua profunda ligação ao jornalismo juvenil e às histórias aos quadradinhos, de que foi, também, um dos maiores e mais entusiásticos divulgadores, mormente quando passou, embora fugazmente, pela redacção d’O Mosquito, onde teve o privilégio de conviver com António Cardoso Lopes (Tiotónio), Raul Correia, E.T. Coelho, José Padinha, José Ruy, Jayme Cortez e muitos outros.

O artigo que hoje apresentamos foi reproduzido do Jornal do Cuto nº 117, de 29/10/1975.

Notas 30 anos de BD - 5

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 4

roussado-pinto-foto-aFolheando o Jornal do Cuto, a partir do nº 110, onde apareceu pela primeira vez uma rubrica memorialista assinada por Roussado Pinto, com o título em epígrafe, respigámos dessas páginas mais um texto dedicado à revista onde, na sua juventude, depois da experiência fracassada com O Pluto (que não conseguiu resistir por muito tempo à forte concorrência dos seus rivais), o fogoso e idealista editor encontrou um novo posto de trabalho e o apoio profissional de dois dos mestres que mais admirava — apesar de se ter atrevido a “desafiá-los”, imitando sem rebuço O Mosquito em quase todos os seus moldes.

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Nesse texto, publicado no nº 114 (8-10-1975) do Jornal do Cuto, Roussado Pinto evoca uma vez mais, com pitoresco humor, algumas peripécias a que assistiu na redacção (e oficina gráfica) chefiada por A. Cardoso Lopes (Tiotónio), onde tinha a seu cargo, entre outras tarefas, os concursos organizados pel’O Mosquito, com grande participação e entusiasmo dos leitores (como documenta a imagem supra, extraída do nº 812, de 5-4-1947).jornal do cuto 114 546

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 3

roussado-pinto-foto-aNa rubrica com este mesmo nome, iniciada no Jornal do Cuto nº 110, de 10/9/1975, quando a revista — depois de uma curta fase, interrompida no mês de Julho do ano anterior, em que saía mensalmente para amortizar os custos de distribuição — regressou às bancas, com periodicidade semanal, Roussado Pinto descreveu muitos factos curiosos (alguns até picarescos) da sua passagem pela redacção d’O Mosquito e de outras publicações onde espraiou o seu fértil talento de jornalista, redactor, coordenador e editor.

Pluto, 3 BalasDotado de uma memória infalível, aliada a uma linguagem vívida e pitoresca que todos os leitores apreciavam, fruto da sua experiência jornalística, Roussado Pinto tinha também o hábito de coligir as suas recordações de forma ordenada e meticulosa, numa espécie de diário íntimo em que se basearam muitas das notas que escreveu para o Jornal do Cuto, a sua derradeira e mais marcante experiência no campo da Banda Desenhada.

A relação profissional e de amizade que manteve, desde muito jovem, com Raul Correia, Cardoso Lopes, E.T. Coelho, Vítor Péon, Orlando Marques, José Ruy e outros elementos da equipa d’O Mosquito, perpassa espirituosamente nesses apon- tamentos memorialistas, que ainda hoje são uma valiosa achega para o conhecimento, nos bastidores de títulos míticos como O Mosquito e o Mundo de Aventuras, de uma das épocas mais florescentes da BD portuguesa e da carreira e personalidade de algumas das suas principais figuras.

Na nota que a seguir reproduzimos, extraída do Jornal do Cuto nº 115, de 15/10/1975, Roussado Pinto refere-se também a um dos seus projectos editoriais, O Pluto, que acabou precocemente, mas ainda hoje é uma das revistas mais cobiçadas (tanto pela sua raridade como pelo seu interesse) do panorama bedéfilo português.

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NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 2

Roussado Pinto 1Como já tivemos ocasião de evocar neste blogue, as referências à mítica revista O Mosquito preenchem muitas das notas publicadas no Jornal do Cuto que Roussado Pinto retirou dos seus apontamentos, recheando-as de curiosos episódios de que ele próprio foi testemunha (ou protagonista) nos bastidores da redacção — onde trabalhou como assistente e conselheiro de António Cardoso Lopes, depois do sonho d’O Pluto, empresa a que meteu ombros durante os meses de Novembro de 1945 a Maio de 1946, ter redundado num desaire comercial de largas dezenas de contos (o que era muito dinheiro nessa época).

O Pluto pretendia ser, em tudo, o equivalente d’O Mosquito, ainda que mais centrado na produção nacional (sobretudo, aventamos nós, porque os direitos autoraisO pluto nº 1 de muito material estrangeiro não estavam ao alcance de uma revista recém-nascida, com naturais dificuldades em impor-se num mercado fortemente concorrencial, dominado pela popularidade d’O Mosquito e do Diabrete, seguidos de perto pel’O Papagaio).

Para assegurar essa produção nacional, que considerava o seu maior trunfo, não só em termos económicos como artísticos, Roussado Pinto, ainda jovem e inexperiente, mas esfusiante de energia e entusiasmo, convidou dois desenhadores quase da sua idade, António Barata e Vítor Péon, já com vasto e popular currículo em revistas desaparecidas, como O Senhor Doutor e O Faísca, ou mesmo n’O Mosquito, como era o caso de Péon, então com 22 anos.

O pluto nº 11Acabou por ser este último a garantir a “parte de leão” das aventuras ilustradas d’O Pluto, chegando mesmo a cometer a proeza de ilustrá-lo de ponta a ponta, durante grande parte da sua efémera existência. António Barata, artista menos dinâmico e, até, pouco atraído pela Banda Desenhada (arte que abraçou somente no início da sua carreira, enveredando depois pela publicidade, sector muito mais lucrativo, onde foi bafejado pelo êxito), teve apenas participação no primeiro número, ilustrando a capa e um conto de Orlando Marques, outro prolífico e talentoso colaborador que ajudou O Pluto a trilhar o seu difícil caminho, à sombra dos dois titãs da imprensa infanto-juvenil dessa época.

Na nota que a seguir reproduzimos, publicada no Jornal do Cuto nº 111, de 17 de Setembro de 1975, Roussado Pinto conta um pitoresco episódio comprovativo da rivalidade que, no início, existiu de facto entre O Pluto e O Mosquito, ainda que a relação de forças, destemidamente encarada pelo ardoroso principiante, fosse comparável à de um combate entre um pugilista da categoria de “leves” e um “peso pesado”.

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NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 1

Roussado Pinto 1Sob esta epígrafe, surgiu no Jornal do Cuto, a partir do nº 110, de 10/9/1975 — primeiro de uma nova fase, depois de um longo interregno, em que a revista voltou à periodicidade semanal, com renovado aspecto gráfico —, uma rubrica assinada por Roussado Pinto, nome mítico da BD portuguesa, que, num assomo de nostalgia ditado pela sua longa experiência e pelo seu seguro instinto jornalístico, resolveu abrir os seus “dossiers”, desfiando muitas recordações da vida profissional que o ligara, durante várias décadas, a alguns dos títulos mais emblemáticos da nossa imprensa juvenil, desde O Pluto, O Papagaio, O Mosquito e o Mundo de Aventuras ao Titã, ao Flecha, ao Valente, a maioria dos quais dirigiu e editou por sua conta e risco, com notável persistência, mas sempre com avultados prejuízos económicos.

Jornal Cuto 12   033Nessa apreciada secção memorialista da sua última e épica aventura editorial — quando lançou o Jornal do Cuto e muitas outras publicações, depois de ter criado uma nova editora, a Portugal Press —, Roussado Pinto não fez segredo do seu passado, evocando pitorescamente, com grande minúcia e perfeita lembrança dos factos, as peripécias que vivera nas redacções desses jornais, os colaboradores com quem partilhara os seus sonhos, os seus êxitos e os seus desaires… as figuras que conhecera e de quem se tornara próximo, num meio recheado de talentosos artistas, como Jesús, Alejandro e Adriano Blasco, Eduardo Teixeira Coelho, Vítor Péon, José Ruy, Stuart Carvalhais, António Barata os mestres que lhe tinham dado a mão, no início da sua carreira, como A. Cardoso Lopes e Raul Correia, e a quem ficara ligado por profunda e duradoura amizade.

Mosquito 363    034Quis o acaso que, ao folhear alguns números do Jornal do Cuto onde se insere esta rubrica — com um cabeçalho desenhado pelo saudoso José Baptista (Jobat) —, nos saltasse à vista um texto dedicado aos colaboradores literários d’O Mosquito, precisamente um dos temas que encetámos muito recentemente neste blogue. Com o seu estilo vivaz e colorido, apoiado numa memória prodigiosa, Roussado Pinto traça, no seu artigo, um breve perfil do grupo heteróclito de jovens novelistas que animou a redacção d’O Mosquito, nos anos 40, sob a tutela quase “paternalista” de um mentor literário cuja modéstia como poeta se encobria com o pseudónimo de “Avozinho”.

Graças a Raul Correia, o mestre que os apadrinhou e aconselhou desde o primeiro instante, abrindo-lhes sem reservas as páginas da revista, estimulando-os e inspirando-os com a sua Mosquito 400   035excepcional veia narrativa, floresceu n’O Mosquito uma nova geração de novelistas que iria deixar uma marca indelével na imprensa juvenil portuguesa dessa época, não só porque tinham talento, mas também porque muitas das suas obras foram ilustradas por um artista de excepcional craveira chamado E.T. Coelho.

A nota de Roussado Pinto que seguidamente transcrevemos (reproduzindo-a directamente do Jornal do Cuto nº 125, de 24/12/1975), tem, pois, um interesse muito especial para os nossos leitores, como fidedigno e oportuno aditamento ao tema que continuaremos brevemente a abordar neste blogue.

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As referências a O Mosquito preenchem muitas destas notas que Roussado Pinto retirou dos seus apontamentos, recheadas de episódios curiosos de que ele próprio foi testemunha nos bastidores da redacção, onde trabalhou como assistente de Cardoso Lopes, depois do sonho d’O Pluto, empresa a que meteu ombros durante os meses de Novembro de 1945 a Maio de 1946, ter sido bruscamente interrompido.

Por esse motivo, tencionamos continuar a apresentá-las no Voo d’O Mosquito, como preito de homenagem à memória e à obra pioneira de Roussado Pinto, assim como à revista que com tanto zelo e entusiasmo editou nos últimos anos da sua vida… e que foi também, em muitos aspectos, um prolongamento d’O Mosquito.