Como já foi largamente noticiado, Fernando Relvas, um dos mais talentosos autores portugueses de BD, morreu com 63 anos, em 21 de Novembro p.p., vítima de pneumonia, depois de ter sido sujeito a uma operação no Hospital Egas Moniz, de onde foi transferido para o Amadora-Sintra. O funeral realizou-se hoje, no cemitério de Barcarena.
Justamente considerado por Nelson Dona, diretor do Festival Amadora BD, como um dos “autores-chave da BD portuguesa contemporânea, que trabalhou em todo o tipo de BD com registos gráficos brilhantes muito diferentes, e também em narrativas diversas, desde a infantil até à que era só para adultos”, Fernando Relvas, nascido em Lisboa em 20 de Setembro de 1954, publicou os seus primeiros trabalhos em meados da década de 1970, somando, desde então, colaborações em várias revistas de BD, nomeadamente Fungagá da Bicharada, Tintin, Mundo de Aventuras e Selecções BD, nos semanários Se7e e Sábado e no jornal Diário de Notícias. Ultimamente, utilizava também os meios digitais e criara blogues, como o Urso Relvas, onde escrevia textos inspirados.
Algumas das histórias publicadas na imprensa foram, mais tarde, compiladas em álbum, como “Karlos Starkiller”, “Çufo”, “Em Desgraça”, “As Aventuras do Pirilau: O Nosso Primo em Bruxelas” e “L123/Cevadilha Speed”. Em 2012, saiu o álbum “Sangue Violeta e Outros Contos” — englobando as histórias “Sangue Violeta”, “Taxi Driver” e “Sabina”, publicadas no Se7e —, premiado como clássico da Nona Arte no Festival de BD da Amadora.
A extensa obra de Fernando Relvas, interrompida nos últimos dois anos, devido à doença de Parkinson de que sofria, foi apresentada várias vezes na cidade da Amadora, capital portuguesa da Banda Desenhada, onde morava com a artista plástica Anica Govedarica, que conheceu na Croácia e com quem estava casado desde 2010.
Entre Janeiro e Abril do ano em curso, a Bedeteca da Amadora foi cenário da exposição retrospectiva “Horizonte, Azul Tranquilo”, que o seu organizador, Pedro Moura, descreveu como “uma obra maior no panorama nacional, ainda que sob muitos aspectos fragmentária (…), um verdadeiro sismógrafo da sociedade portuguesa e global das últimas décadas”. A exposição exibia trabalhos de Fernando Relvas publicados em fanzines, em revistas como o Tintin e noutra imprensa, como o semanário Se7e, onde deu largas, durante vários anos, a um imaginário ousado e irreverente e a uma veia gráfica experimentalista.
Em declarações à Agência Lusa, Pedro Moura sintonizou a carreira de Relvas com “um percurso nervoso por entre géneros e humores, métodos e técnicas, veículos de publicação e modos de produção e circulação, que servirá de retrato de uma incessante e intranquila busca pela expressividade própria da banda desenhada”.
Recorde-se também a exposição “Fernando Relvas e a Revista Tintin”, inaugurada em 16/5/2014 no extinto CNBDI (Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem), onde hoje se localiza a sede do CPBD (Clube Português de Banda Desenhada). Essa mostra assinalou a entrada da obra de Fernando Relvas, Prémio Nacional Amadora BD 2012, na importante e vasta colecção de originais da CMA/CNBDI, actualmente depositada na Bedeteca da Amadora.
Em finais de Outubro p.p., Relvas teve ainda a satisfação de assistir à abertura da sua nova mostra, na Galeria Artur Bual, integrada no 28º Festival Amadora BD, com uma abordagem retrospectiva (e não só) da sua obra, organizada por João Miguel Lameiras. Menos de um mês depois, partiu para o paraíso dos grandes artistas, onde descansará em paz, eternamente…
Este blogue, em homenagem à sua memória, está a preparar a apresentação de uma história publicada n’O Mosquito nº 2 (5ª série), Junho de 1984, cujos originais já estiveram também patentes na Bedeteca da Amadora. Infelizmente, foi a única colaboração que Relvas, sempre disperso por múltiplos projectos, prestou àquela revista — última “reencarnação” do mais emblemático título da BD portuguesa —, onde surgiu ao lado de autores como Jordi Bernet, Juan Gimenez, Esteban Maroto, Mandrafina, Antonio Hernandez Palácios, Eduardo Teixeira Coelho, Estrompa e Augusto Trigo.
Nota: este artigo utilizou algumas informações extraídas do DN Artes online.