No nº 393, último publicado em Março do referido ano, regressou em grande forma um dos melhores novelistas d’O Mosquito, Orlando Marques, com o conto “O Mistério do Starnight”, que abordava um dos seus temas favoritos: as aventuras de ambiente marítimo, a bordo de velhos cargueiros comandados por rijos lobos do mar. Outro regresso festejado por muitos leitores foi o de Lúcio Cardador, com uma trepidante novela de cowboys, intitulada “Leis do Oeste”. E. T. Coelho, também na sua melhor forma, ilustrou ambas com vigor e dinamismo, demonstrando novamente ter aptidão para todos os géneros e preparando-se para ainda mais altos voos ao serviço d’O Mosquito.
Os nºs 394, 395 e 396 incluíram mais separatas com temas da empolgante novela, original de Raul Correia, “Aventuras de Jim West”, que terminara no nº 392, mas cujos ecos ainda perduravam na memória dos leitores. Aqui as apresentamos, graças mais uma vez à boa vontade e ao espírito de colaboração do nosso amigo Carlos Gonçalves.
Como curiosidade a assinalar nestes três números, temos outro decorativo (e primaveril) cabeçalho criado pela fértil imaginação de E. T. Coelho, embora, a partir do nº 398, fosse dada preferência à imagem de um “mosquito” ardina, entoando alegremente o seu pregão, que se tornou, para a posteridade, o mais vulgar e emblemático cabeçalho da revista.
Outra curiosidade é a capa do nº 395 ter sido dedicada à segunda história italiana publicada n’O Mosquito, “A Viagem do Narval”, com desenhos de Carlo Cossio, o que poucas vezes voltaria a acontecer. No número anterior, a escolha da capa recaiu sobre a longa e emocionante aventura “Ao Serviço da Lei”, ilustrada por Hilda Boswell, que desbravava agora novos cenários, levando o valente cão Storm, numa jornada imprevista, até às gélidas e solitárias paragens do círculo polar árctico.
Mas a grande, a mais sensacional novidade desta nova fase d’O Mosquito, nos primeiros meses de 1943 — ano que, aliás, seria fértil em surpresas, confirmando a imparável evolução da pequena e dinâmica revista, que não dormia à sombra dos louros colhidos —, foi a estreia no nº 396 de outro jovem artista português, cujo nome não tardaria a ombrear com os dos maiores desenhadores do seu tempo… embora no cabeçalho da história apresentada nesse número e nos seguintes, com o título “Fora da Lei”, figurasse apenas um breve apelido de sonoridade espanhola, que deve ter despertado o “bichinho” da curiosidade em muitos leitores.
Foi esse o começo da carreira de Péon (de seu nome completo, Vítor Amadeu Batista Péon Mourão), depois de já ter realizado para a Colecção de Aventuras algumas ilustrações baseadas numa história de outro grande desenhador inglês, Reg Perrott, cujo estilo influenciou profundamente os seus primeiros trabalhos, com destaque para “Fora da Lei”, uma abordagem tradicional às histórias de cowboys a que não faltavam emoção, movimento, lances de vigor e heroísmo, belos cenários naturais e personagens de ambos os sexos capazes de cativar os leitores, como nos melhores filmes do género, que nessa época punham ao rubro o entusiasmo das plateias.
Com Vítor Péon, O Mosquito ganhou (na histórica data de 10 de Março de 1943) um novo e promissor elemento artístico que iria dar um forte impulso às histórias aos quadradinhos nacionais de cunho realista, e nomeadamente ao western, até aí subordinado, na maioria das nossas publicações infanto-juvenis, a uma linha caricatural e paródica.
No nº 399, teve início outra grande novela de aventuras magistralmente ilustrada por E. T. Coelho, “Sunyana, o Rebelde” — cuja acção se desenrolava na Índia dos Rajás e dos fanáticos Tughs, ainda dominada pelo Império britânico —, assinalando o regresso de um antigo colaborador literário d’O Mosquito, Roberto Ferreira (ou Rofer), que escondia agora a sua identidade sob um pseudónimo de raiz anglo-saxónica: Robert Bess. Caso raro, mas não único, entre os novelistas d’O Mosquito, porque o próprio Raul Correia já tinha usado um pseudónimo de origem seme- lhante: C. David Grim.
Resta assinalar, no nº 395, a con- clusão da magnífica aventura “O Ca- pitão Ciclone”, cujo desenhador, Thomas Heath Robinson, já aqui referimos várias vezes, e o início no nº 400 de mais uma história italiana, “O Assalto à Diligência”, desta vez desenhada por Giorgio Scudellari. O Avozinho voltou a dar um ar da sua graça no nº 400, com um soneto intitulado “Regresso”, em que festejava o seu jornal “quatro vezes centenário”.
O mesmo número inseria mais uma secção de curiosidades de todo o mundo e de todos os tempos ilustradas por E. T. Coelho, que revelava especial apreço por temas didácticos e divertidos; e os populares concursos “Relâmpago” também voltaram a ser notícia nos nºs 396, 397 e 399, com pitorescas e bem rimadas respostas em verso.