NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA – 2

Roussado Pinto 1Como já tivemos ocasião de evocar neste blogue, as referências à mítica revista O Mosquito preenchem muitas das notas publicadas no Jornal do Cuto que Roussado Pinto retirou dos seus apontamentos, recheando-as de curiosos episódios de que ele próprio foi testemunha (ou protagonista) nos bastidores da redacção — onde trabalhou como assistente e conselheiro de António Cardoso Lopes, depois do sonho d’O Pluto, empresa a que meteu ombros durante os meses de Novembro de 1945 a Maio de 1946, ter redundado num desaire comercial de largas dezenas de contos (o que era muito dinheiro nessa época).

O Pluto pretendia ser, em tudo, o equivalente d’O Mosquito, ainda que mais centrado na produção nacional (sobretudo, aventamos nós, porque os direitos autoraisO pluto nº 1 de muito material estrangeiro não estavam ao alcance de uma revista recém-nascida, com naturais dificuldades em impor-se num mercado fortemente concorrencial, dominado pela popularidade d’O Mosquito e do Diabrete, seguidos de perto pel’O Papagaio).

Para assegurar essa produção nacional, que considerava o seu maior trunfo, não só em termos económicos como artísticos, Roussado Pinto, ainda jovem e inexperiente, mas esfusiante de energia e entusiasmo, convidou dois desenhadores quase da sua idade, António Barata e Vítor Péon, já com vasto e popular currículo em revistas desaparecidas, como O Senhor Doutor e O Faísca, ou mesmo n’O Mosquito, como era o caso de Péon, então com 22 anos.

O pluto nº 11Acabou por ser este último a garantir a “parte de leão” das aventuras ilustradas d’O Pluto, chegando mesmo a cometer a proeza de ilustrá-lo de ponta a ponta, durante grande parte da sua efémera existência. António Barata, artista menos dinâmico e, até, pouco atraído pela Banda Desenhada (arte que abraçou somente no início da sua carreira, enveredando depois pela publicidade, sector muito mais lucrativo, onde foi bafejado pelo êxito), teve apenas participação no primeiro número, ilustrando a capa e um conto de Orlando Marques, outro prolífico e talentoso colaborador que ajudou O Pluto a trilhar o seu difícil caminho, à sombra dos dois titãs da imprensa infanto-juvenil dessa época.

Na nota que a seguir reproduzimos, publicada no Jornal do Cuto nº 111, de 17 de Setembro de 1975, Roussado Pinto conta um pitoresco episódio comprovativo da rivalidade que, no início, existiu de facto entre O Pluto e O Mosquito, ainda que a relação de forças, destemidamente encarada pelo ardoroso principiante, fosse comparável à de um combate entre um pugilista da categoria de “leves” e um “peso pesado”.

Notas 30 anos de BD 2

 

 

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