O CAMINHO DO ORIENTE A CORES

O José Pires não pára! Neste Centenário (o 1º, como ele diz!) de Eduardo Teixeira Coelho, vulgo ETC, decidiu dar a cor a esta obra magistral que é O Caminho do Oriente, cuja edição em álbuns a preto e branco, nos gloriosos tempos da Editorial FUTURA, foi coordenada pelo Jorge Magalhães e legendada por mim directamente no fotolito (ainda não estávamos na era digital).

O Jorge estaria, de certeza, empolgado com essa iniciativa de Gussy a quem desejo o maior êxito nessa publicação.

                                                                             Catherine Labey

MEMÓRIAS À VOLTA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (POR JOSÉ RUY) – 6

Depois que publiquei na revista «Cavaleiro Andante» o romance do brasileiro José de Alencar, «Ubirajara», em Quadradinhos, fiz uma história passada na Península Ibérica no tempo do General romano Cipião, numa guerra entre os lusitanos que se defendiam do invasor, tendo por aliados os cartagineses.

Era o meu colega e amigo Mário Correia quem fazia litograficamente a separação das cores, no Diário de Notícias. Mas as meias-tintas eram conseguidas com reticular, processo diferente do aerógrafo usado n’O Mosquito.

Nesta altura fui vítima da minha própria escrita. Quando fiz os textos, que na altura era norma da revista serem compostos tipograficamente, não contei que entrelinhassem o texto, e este assim ocupou mais espaço do que eu previra, e quando na redacção colavam as legendas sobre os originais, atingiam o desenho.

É o caso na vinheta 2 da primeira página da história, o acampamento romano foi cortado deixando de se ver a sua estrutura completa. E na outra página, o soldado, na última vinheta.

E eu que critiquei n’O Mosquito os cortes feitos aos desenhos de Eduardo Teixeira Coelho, tinha agora os meus cortados pelo meu próprio texto.

Os originais eram entregues com antecedência à data da publicação, e quando vi a revista, estavam já todas as páginas com as legendas coladas.

Nesse período fui fazendo, a pedido da redacção, algumas capas alusivas a outras histórias de origem estrangeira.

Era uma situação igual à que se passara n’O Mosquito quando publiquei «O Reino Proibido».

Entretanto surgira o «Fomento de Publi- cações» onde o Roussado Pinto exercia a sua mestria na orientação dessa nova editora.

Lançaram «O Titã», «O Flecha» e outras publicações. Convidaram-me a fazer ilustrações para novelas e também uma história em quadradinhos.

Tinha no meu arquivo um jornal de 1955 com uma notícia da agência «France Press» que me deu o tema para a aventura.

Esta página é uma reprodução do «Mundo de Aventuras» onde muito mais tarde foi republicada, e com balões que nessa altura incluí.

Fui desenhando a história, paralelamente com a colaboração que mantinha no Cavaleiro Andante, por isso avançava mais devagar. Só seria publicada quando a tivesse pronta. Quando estava quase a acabar, o jornal fechou. E resolvi publica-la no Cavaleiro Andante.

Ao terminar a sua publicação, era preciso pensar que história iria fazer a seguir.

Na sequência do meu conhecimento dos clássicos, ao ler «O Bobo» de Alexandre Herculano, achei que este romance daria uma HQ empolgante, passada numa época histórica do meu agrado: o princípio da nossa nacionalidade.

Adquirira esse livro, uma 2ª edição de 1884, na Livraria Barateira, um alfarrabista de Lisboa.  

Propus esta ideia ao Simões Müller que aceitou sem rodeios.

No próximo artigo: «A adaptação para HQ do romance O Bobo»

PÁGINAS DE ANTOLOGIA : “A VIDA MARAVILHOSA DE CHARLES CHAPLIN” (POR JOSÉ RUY)

“A Vida Maravilhosa de Charles Chaplin” é, provavelmente, uma das obras menos conhecidas de José Ruy. Produzida em 1979, a sua estreia ocorreu no 1º número (10/04/1979) da revista “Spirou” (edição portuguesa), dirigida por Vasco Granja. Mais tarde, esta notável biografia ilustrada, com 46 páginas, do maior actor e realizador cinematográfico de todos os tempos foi publicada em álbum pela Editorial Notícias.

Como introdução à história da vida de Charles Chaplin, alegre e trágica, ao mesmo tempo, e cuja maior criação — Charlot, o eterno vagabundo dos sonhos cinéfilos — se tornou um símbolo para milhões de espectadores, em todo o mundo, José Ruy concebeu duas páginas de atraente composição, à laia de trailer de um filme, resumindo nalguns flashes os principais êxitos da carreira cinematográfica de Chaplin, inspirados quase sempre pelas peripécias acidentadas da sua existência, antes de se tornar famoso.

Em homenagem a outro grande criador, com uma longa carreira dedicada à arte das imagens mais próxima do cinema, ou seja, a banda desenhada, apresentamos essas duas páginas, com a certeza de que merecem amplamente figurar numa antologia dos melhores trabalhos de José Ruy — autor que alguns sectores da crítica têm, por vezes, depreciado injustamente. Mas a sua obra gigantesca, tanto pelo volume, pela produção regular, como pela variedade temática e pelo rigor da forma, aí está para contestar essa injustiça!

DOIS COLÓQUIOS DE JOSÉ RUY NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DA AMADORA

Nos próximos dias 24 de Outubro e 6 de Novembro, Mestre José Ruy volta à Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, na Amadora, para apresentar os seus dois mais recentes álbuns (ambos publicados pela Âncora Editora).

Na primeira dessas sessões, que terão lugar às 18h00, no Auditório da Biblioteca Municipal (sita no mesmo edifício onde funciona a Bedeteca), participará também Otelo Saraiva de Carvalho, para falar do 18 de Março de 1974 (em que ocorreu o falhado golpe das Caldas da Rainha) e da sua reconstituição no álbum de José Ruy.

A segunda, dedicada à obra “A Ilha do Corvo que venceu os piratas”, cujo lançamento teve lugar nos Açores e que em breve chegará ao mercado nacional, tem como orador João Saramago, membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

MEMÓRIAS À VOLTA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (POR JOSÉ RUY) – 5

Com a técnica de utilizar modelos vivos para as personagens das histórias em quadrinhos, que o Eduardo Teixeira Coelho me incutiu, utilizava os colegas da secção de Rotogravura e Offset do Diário de Notícias, onde trabalhava. Quase todos manifestavam o desejo de entrar nas histórias.

Na vida de «Guntenberg» que desenhei para um Número Especial do Cavaleiro Andante, além do Rodrigo, que mostrei no artigo anterior, o Fernando Amorim, transportador-gravador de Rotogravura, serviu para uma personagem.

O seu papel foi o de um rico financiador de Gutenberg. A adaptação à época, século XV, fez-me acrescentar-lhe cabelo. E os voluntários começaram a afluir. Também o transportador de Offset, Fernando Lança, personalizou uma figura.

A este amigo coube-lhe o papel de um dos colaboradores de Gutenberg, que tiveram de fugir para França, por causa da guerra, quando a oficina do mestre foi destruída pelos canhões, arma inventada também nessa época.

Claro que tive de fazer algumas alterações: eliminei os óculos e acrescentei uma barba rala, e com o cabelo num corte diferente.

Continuei a colaborar nos Números Especiais [do Cavaleiro Andante], com algumas histórias que se completavam numa página.

Passados 22 anos, em 1976, o meu amigo Jorge Magalhães (que coordenava a revista Mundo de Aventuras) republicou esta história [na edição mensal, em formato A4]. Mas como então eu passara a compreender a vantagem de incluir balões com legendas, para uma melhor dinamização da narrativa, alterei o aspecto das páginas.

Nova versão de “Gutenberg”, com balões, publicada no Mundo de Aventuras Especial nº 13 (Dezembro de 1976)

Passei a escrever as legendas manualmente, o que também prefiro, para que o texto tenha uma maior ligação com o desenho. O Mundo de Aventuras era impresso em Offset, por isso não mantive os esbatidos da Rotogravura.

Mas só em 1956, dois anos depois da publicação da história de Gutenberg, comecei a colaborar na revista semanal Cavaleiro Andante, sem interrupção, até meados de 1959.

Foi com a adaptação do romance «Ubirajara», da autoria do autor brasileiro José de Alencar. Há a assinalar aqui uma curiosidade, que vos conto de seguida.

Esta é a capa do Cavaleiro Andante nº 220, a anunciar a história que se desenrolava no seu interior, publicada em 1956, e ao lado o original, que na altura desaparecera na oficina. Era comum não ligarmos aos desenhos originais das histórias, pois não pensávamos poder utilizá- -los uma segunda vez. E o insólito vem a seguir:

Este original apareceu recentemente, num anúncio de uma galeria de Paris, à venda por 400 €. Foi o meu amigo Leonardo De Sá quem descobriu.

Servia-me de modelo para as figuras musculadas, e portanto utilizei, para esta personagem de índio sul-americano, um vendedor de leite, que nessa época ia porta a porta, com as bilhas de zinco, fornecer diariamente meio litro ou metade de meio litro desse alimento.

À noite ia ao atelié montado em minha casa, servir-me de modelo. Pagava-lhe 4$00 à hora, o que na altura era compensador. A revista pagava 250$00 por cada página ou capa.

Muitos anos mais tarde, em 1982, e também pela mão do Jorge Magalhães, a Editorial Futura republicou esta história em livro e realizei uma pintura para a nova capa, mas mantendo a composição da que saíra no Cavaleiro Andante, embora com mais dinamismo, com a experiência entretanto adquirida nos 32 anos que mediaram a publicação.

Mas, enquanto na primeira versão a pontaria de «Ubirajara» para ferir o crocodilo foi num olho e numa axila, as partes mais vulneráveis deste animal, na segunda, por uma questão de sensibilidade, para não chocar os leitores, escolhi um intervalo na carapaça, entre espáduas, embora com menor probabilidade de êxito para ferir mortalmente o sáurio. 

A editora iniciou com esta história a colecção «Antologia da BD Portuguesa» [neste álbum, com 64 páginas, foram reeditadas também «A Vida de Gutenberg» e duas outras histórias de José Ruy publicadas no Cavaleiro Andante: «A Mensagem» e «Na Pista dos Elefantes»].

No próximo artigo: «A Mensagem» e outras histórias que fiz para o Cavaleiro Andante.