NÚMEROS “PRIMUS” – 1

QUANDO “O MOSQUITO” COMEÇOU A VOAR…

Mosquito nº 1 capa469

Em 14 de Janeiro de 2014 celebrou-se mais um aniversário (o 78º) da mítica revista infanto-juvenil O Mosquito, que ainda continua a ter muitos admiradores em várias faixas etárias que atravessam gerações, conferindo-lhe um estatuto raro, entre as suas congéneres, de caso emblemático de longevidade na memória colectiva e fenómeno sócio-cultural na sua época.

Como habitualmente, a data foi festejada num almoço-convívio marcado para sábado, dia 18, num restaurante lisboeta. Nesse mesmo dia, pelas 17 horas, teve lugar na Livraria Barata (Avenida de Roma, 11) uma palestra de José Ruy, em que este ilustre autor de BD evocou o percurso d’O Mosquito, nos seus 17 anos de publicação ininterrupta, explicando alguns dos processos tipográficos utilizados na sua confecção.

Raoul Correia e Cardoso LopesRecordamos que o primeiro número dO Mosquito — hoje como ontem, uma raridade vendida quase a “peso de ouro”, apesar de ter sido reeditado em fac-simile, nos anos 70, pelo Jornal do Cuto — apareceu nas bancas com oito páginas, quatro delas a uma cor, ao preço de 50 centavos (cinco tostões), tornando-se logo, entre o público infanto-juvenil, um caso sério de popularidade e tiragem, graças ao saber e competência dos seus dois fundadores, António Cardoso Lopes (Tiotónio) e Raul Correia, cada um figura incontornável na vertente respectiva: a gráfica e a literária.

Mosquito nº 1 página 2  476Além de uma novela de aventuras, “O Enigma de Nelson Street”, escrita por Raul Correia, esse primeiro número contava ainda com uma poética rubrica assinada pelo Avozinho (pseudónimo do seu director literário, ciosamente mantido em segredo, durante muitos anos), que se tornaria a figura mais tutelar e estimada da revista. Nas páginas seguintes incluíam-se três magníficas histórias ilustradas por notáveis artistas: “Pelo Mundo Fora”, série inglesa já famosa, com desenhos de Walter Booth, oriunda do Tic-Tac, revista fundada também por Cardoso Lopes, mas que este deixou para trás ao lançar-se numa empresa de maior envergadura, com a aposta nO Mosquito; “Pedro e Paulo, Marinheiros, e o Almirante Calheiros”, outra série inglesa, com o traço hilariante de Roy Wilson; e “Formidáveis Aventuras do Grumete Mick, do Velho Mock e do Cão Muck”, movimentada série, cheia de exóticas peripécias, criada pelo humorista espanhol Arturo Moreno, que foi, nessa primeira fase, um dos maiores êxitos do “semanário da rapaziada”. E havia ainda uma rubrica especial, o Correio da Tia Irene, dedicada às meninas, anunciando-se para o número seguinte uma página de engenhocas do Tiotónio, a cujo peculiar grafismo se deviam a cara alegre do petiz e a imagem do “mosquito” estampadas na capa.

Mosquito nº 1 Pág centralMosquito nº 1 pelo mundo fora   474

Por uns modestos cinco tostões, ao alcance de muitas bolsas (embora a pobreza ainda alastrasse por todo o país), e com um sumário bem doseado, onde o texto não prevalecia sobre as imagens (como noutros jornais pouco ilustrados), não admira que a rapaziada desse tempo tenha embandeirado em arco, sentindo uma empatia irresistível com o simpático “insecto” que tão atraente e prazenteiro se mostrava, no seu jeitoso formato.

Ao longo dos meses seguintes, a tiragem d’O Mosquito — que era, então, impresso em litografia, numa pequena máquina sujeita a frequentes avarias —, não parou de aumentar, apesar de todos os percalços, consolidando o seu êxito entre milhares de miúdos de boina e calção (alguns de pé descalço) que frequentavam, na sua maioria, as escolas primárias de todo o país, e inaugurando uma nova etapa no progresso da imprensa infanto-juvenil portuguesa — que ficou conhecida como “época de ouro” e se perpetuou, de forma simbólica, na memória nostálgica de várias gerações.

Mosquito nº 1 Mick mock e Muck

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