A minha adaptação ao novo processo de Rotogravura no Diário de Notícias, foi rápida. Fiquei com a categoria de oficial montador e retocador de Offset e Rotogravura.
Aproveitava todos os intervalos, entre o terminar de um trabalho e o início do seguinte, para desenhar colegas e máquinas.
Este, que vemos a trabalhar, era o impressor tipográfico da nossa secção, a tirar provas do texto em chumbo num prelo, sobre papel celofane, que eram depois montadas nas paginações das revistas destinadas a serem impressas na Rotogravura. Chamava-se Cara de Anjo, nome que eu, ao princípio, julgava ser alcunha; só quando tive de me dirigir a ele, e para não o tratar como toda a gente pela alcunha, o que me pareceu desagradável, lhe perguntei o nome verdadeiro, me respondeu que era mesmo esse. Nunca tinha antes ouvido tal nome próprio. O Rodrigo entrou no Diário de Notícias como meu aprendiz, pois a intenção da gerência era formar pessoal para essa especialidade gráfica.
Acabámos por nos tornar bons companheiros de trabalho.
Naturalmente que o utilizei como personagem das Histórias em Quadrinhos.
Os croquis eram feitos com muita rapidez, para apanhar a frescura da posição e o movimento. Desse modo, não prejudicava o trabalho que tínhamos em curso.
Nessa altura, em 1954, iniciei a minha colaboração com histórias em quadrinhos num Número Especial d’O Cavaleiro Andante, com a vida de «Gutenberg». O Rodrigo personalizou essa personagem, quando jovem.
O plano era impresso nos cadernos a duas cores numa face, e a uma cor no verso. Esta página mostra a impressão só a verde, em que o traço ficou como se fosse a negro e as meias-tintas aparentam como se fossem de uma segunda impressão.
O Rodrigo, quando viu a última vinheta [página seguinte], com o cavaleiro do século XV, sugeriu-me que fizesse uma história com as aventuras de um «cavaleiro andante».
Realmente fazia todo o sentido, seria um herói a corresponder ao título da revista. Mas pensei que isso seria tarefa para o Fernando Bento. No entanto, na redacção nunca deram seguimento a essa ideia, e o Bento limitou-se a fazer só algumas capas com a figura alusiva ao título, para comemorar alguma data festiva.
No próximo artigo: «Os colegas que queriam ser desenhados» e «O começo da colaboração na revista semanal».
É verdade, nesta altura, os profissionais de artes gráficas tinham de saber desenhar muito bem, porque eles tinham de retocar e desenhar sobre pedras mármore através das quais se imprimia para o papel. Por isto é que eles eram designados por litógrafos. Também por esta profissão exigir um grande conhecimento de desenho, é que quase todos os litógrafos foram grandes desenhadores de banda desenhada.
Mestre José Ruy é um desses grandes profissionais.
Que saudades desse tempo!
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E Mestre José Ruy é também um caso raro, por se manter ainda em actividade, aos 88 anos, e por estar sempre pronto a falar da sua carreira, prestando valiosos ensinamentos à gente mais nova.
Este blogue sente-se profundamente honrado por contar também com a sua colaboração, através dos artigos memorialistas que estamos a publicar, enriquecidos com documentos inéditos, como os preciosos “croquis” apresentados nesta página. Como exemplo de talento, brio profissional e amor à sua Arte, José Ruy é um exemplo como há poucos!
Obrigado pelo seu comentário, amigo Pais Pinto, e um grande abraço.
JM
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Muito interessante, mesmo!
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